segunda-feira, 19 de abril de 2010

Brilho eterno de uma mente sem lembrancas

Com a chegada da idade, algumas coisas se vao - dicotomias ah parte. A memoria eh uma delas, indubitavelmente. Certos momentos e eventos em nossas vidas, ah medida que os anos passam, parecem ter acontecido em outra vida. Ou, pior ainda, na vida dos outros.

Nunca pensei que eu seria traida pela idade. Justo eu, que sempre fui tao boa de "memoria". Nada passava despercebido pelo meu cerebro: depois de vivido e processado, era lah que ficaria pra sempre. Mas nao, caros amigos. Descobri que o tempo (e talvez um pouquinho de cerveja tambem) pode ser cruel com o que de bom - e ruim - ficou armazenado na cachola.

Foram 27 anos e uns quebrados de historias ateh entao. Vida fragmentada entre algumas cidades e paises diferentes. Muitas idas e vindas. Um pouco de alcool tambem pra atrapalhar no armazenamento de certos eventos. E com a chegada de uma nova decada, a certeza: eu estou ficando velha. E minha memoria eh a prova viva disso.

Eu sempre me orgulhei da minha ilustre capacidade de lembrar nomes, fatos, datas, trivialidades, coisas importantes e futilidades tambem. Nada comparada ao meu amigo Frederico, que eh praticamente uma Wikipedia ambulante, mas sempre fui boa nessas coisas de "lembrar". Historias do tempo de Ensino Fundamental, Medio, Unisinos, CCAA, Africa, Irlanda, Porto Alegre, Sao Leopoldo, Novo Hamburgo: eu nao esquecia nada. Flertes, ex-flertes, flertes nao concretizados: nada escapava da fabulosa memoria de Hell Pinto. Ateh pouco tempo...

Eu tenho esquecido as coisas. Fatos, eventos, pessoas. Alunos. Historias. Partes da (minha) vida. Parece que uma parte do meu "hd" lotou. Tah cheio. E, automaticamente, comecou a fazer uma limpeza pra garantir espaco pra memorias novas. Sem muito criterio nao: vai apagando o que vem pela frente. Tah, eu sei, eu nao sou tao velha assim. E nao vivi nada se comparar minha vida com a de outras pessoas, eu sei. Nao entremos nesse merito. Nao eh esse o tom. O fato eh que eu tenho esquecido. Coisas importantes, pessoas, partes de mim. E eh triste, nao?

Dei-me conta de tal fato dias desses em que frequentei o famoso Ginasio Celso Morbach (se nao conhece, google it!) num grandioso evento na minha cidade natal. Comecei olhar pros lados, pras pessoas. Rostos conhecidos, muito familiares, mas quem eram essas pessoas? Alunos, ex-colegas, pessoas que algum dia fizeram parte da minha vida de tal forma. E me deu uma sensacao de vazio. Vazio misturado ah agonia. Como poderia eu esquecer? Eu sei, too much drama for nothing. Mas me afetou.

Eh triste ver pessoas que a gente ama partir -seja pra outro lugar, seja pra sempre, seja pra fora de nossas vidas - mas, mais triste ainda eh nao lembrar. Nao poder lembrar. Nao conseguir. Ter vivido e poder buscar na caixinha aqueles bons momentos pra dar umas boas gargalhadas (ou derramar algumas lagrimas pra lavar a alma) posteriormente. Esquecer. Nao tem coisa pior.

Num momento desses, resta o consolo de saber que o que eh essencial nunca vai ser esquecido (a nao ser que o Alzheimer me "pegue" algum dia). Que eu nunca vou esquecer como foi e com que foi meu primeiro beijo. As tardes na casa da Voh Leboutte. O pudim da minha mae. O primeiro lp dos Beatles. O primeiro amor. A primeira decepcao. As grandes amigas dos tempos de colegio (por mais que vivam em mundos completamente diferentes do meu agora). Os tempos aureos da faculdade. O saudoso CCAA. A folclorica Sao Leopoldo. Os abracos verdadeiros pelos aeroportos da vida. Os jogos e todo sofrimento com o meu time. A batalha dos aflitos. O time do Felipao e o do Mano. A primeira aula de Ingles que eu dei. A distincao no TCC. Aquele friozinho na barriga ao pisar no John Lennon Airport. A Africa do Sul. A Europa. O Mexico. A querida Cultura Inglesa e seus maravilhosos alunos. Os amigos da Capital. Os amigos do Interior. Os amigos do mundo. A melhor amiga em SP. Os Leite-Pinto.

Eh, o que eh mais importante fica. Pra sempre. E bom mesmo eh saber que tem muito mais por vir. Lembrando depois ou nao.

Pero que las hay, las hay...



Eu nunca acreditei em bruxaria. No esotérico. No sobrenatural. Sempre fui mais pé no chão mesmo. Um pouco cética, talvez. Sempre desconfiei de horóscopos e combinações astrológicas. (Será que meu signo combina com o dele?, eis a dúvida!) Mesmo sempre questionando tudo isso, tem um lado meu - confesso - que no fundo, no fundo, não desacredita nessas bobagens todas. Já li muito horóscopo, já pedi mapa astral via Internet, já fui em cartomante. Ah, o desespero... A-ha! Palavra-chave essa: desespero.


O tal do desespero é o que nos faz, muitas vezes, buscar aquela consulta astral na Internet. Calcular o número astral do dia (será que isso existe ou é invenção minha?), usar a cor que o Diário Gaúcho mandou (sacaneei agora!) ou ir na Igreja todo domingo ganhar a benção do Padre (cuja fé e estilo do vida são muito questionáveis, perdoem-me os fiéis). Desespero. É esse son of a bitch que faz seres "esclarecidos" às vezes recorrerem às coisas mais estapafúrdias. Que tal uma simpatia pra trazer aquele cara de volta à tua vida??? É...


Tem gente que se presta a esse tipo de coisa. E eu não questiono nem caçoo de fés e crenças. Mas realmente me surpreende. Surpreende o fato de pessoas colocarem assim, do nada, o futuro de suas vidas nas mãos de seres sobrenaturais. Será que existe simpatia pra acabar com a fome mundial? Ou existe numerologia que ajude as pessoas a serem menos suscetíveis a erros? Ou à estupidez?


Como dito anteriormente, muito horóscopo já li na vida: confesso. Já tive meus momentos de acreditar em recompensa (quem planta o bem, colhe o bem), em sorte e em inveja também. Ah, a maldita inveja. Essa eu nem penso mais, porque, no meu cérebro tal sentimento é incabível. Eu nasci genuinamente burra mesmo. Eu torço pela felicidade alheia e, não importa quem seja, acredito que conseguimos esquecer velhas desavenças e desejar o bem ao próximo. É, eu sei: burra!


Todo esse blablabla sem fim tem um porquê. Nesses últimos dias eu andei passando por meio de um furacão e comecei a pensar nessas coisas malucas todas. E tenho escutado histórias mais bizarras ainda relacionadas a tudo isso. Eu até tento acreditar, deixar meu ceticismo de lado e crer nas forças (tanto do bem ou do mal) pra explicar certos acontecimentos em minha vida e vidas paralelas... Mas, bah, confesso, é difícil de comprar essa ideia.


Se promessas, batuques, superstições, astrologia e afins realmente funcionassem, todo Gre-nal daria empate, o Um milhão e meio do BBB seria de todos nós, não existiria fome nem corrupção. Todos namorados de signos "compatíveis" com o nosso teriam tornado-se esposos. (E o que "all the single ladies" diriam numa hora dessas?). E os de signo incompatível? Ih, melhor nem se aproximar... Se todos desejos e pensamentos (tanto positivos como negativos) realmente movessem o mundo, as coisas seriam diferentes. Se Deus fosse Pai de todos, hm, enfim, não entrarei nesses méritos... E, se fosse brasileiro, como gostam de insistir, o que o pessoal da favela no Rio teria a dizer?


Cada um com sua fé. Cada macaco no seu galho. Eu continuo no meu. Ele balança às vezes, nem sempre é seguro e confortável, mas é mais lógico. At least for me. E ele me sustenta. E não me deixa cair. E por enquanto, essa ideia continua me satisfazendo. Independente da posição dos astros ou das bruxas feiticeiras ao meu redor.


domingo, 11 de abril de 2010

You only live once


You only live once. Apesar de existir um filme do agente secreto James Bond entitulado "You only live twice", eh somente mesmo na ficcao que isso eh possivel. Infelizmente. Acabei de voltar de um encontro com a parte Leite-Wiklicky da familia. E dias como o de hoje me fazem querer tornar verdade o poder "live twice". Pra ter a oportunidade de viver tudo o que foi bom novamente, reparar erros do passado, nao deixar certas coisas que sao extremamente importantes de lado - por descuido mesmo - e desfrutar mais dos prazeres que eh ter uma familia tao bacana.

Encontros como esse que, ah medida em que o tempo passa, vao ficando mais raros, me deixam feliz e me fazem entrar em contato com uma parte minha que nunca vai morrer: a minha infancia, a minha base. Rever meus primos, agora pais de familia (ou encaminhado-se para) e ocupando cargos de extrema responsabilidade em seus empregos traz ah tona aquela parte da minha vida (e da deles tambem) em que tudo era festa e brincadeira. Eu e meu primo Mauricio somos os mais novos da linhagem dos Leite. A minha mana e os outros rapazes jah estao alguns anos ah frente. E talvez tenha sido esse o fato que nos separou no periodo pre e pos adolescencia. A familia Leite ocupa grande e vital parte das minhas lembrancas de dias de ocio: os primos, mesmo mais velhos, brincavam com a gente, e, juntos, criavamos filmes, passavamos tardes assistindo a fitas de video e imersos em filmes de ficcao cientifica e fantasia. Tempo bom aquele.

A diferenca de idade obviamente nos separou no inicio dos anos 90. Os guris, jah com seus quase 20 anos, tinham coisas muito mais interessantes pra fazer do que brincar com a prima, claro. Crescemos, seguimos caminhos diferentes, mas, nao, nunca nos separamos. Os reencontros foram ficando cada vez mais e mais raros e, a falta de tempo e todos aqueles outros blablablas da vida fizeram com que nossas vidas tomassem outros rumos. Pena.

Felizmente (porque tudo que eh ruim tem um lado bom e vice-versa), certas coisas na vida nunca mudam. Sangue eh sangue. E agora, todos (menos eu) casados, bem-resolvidos e crescidos, sabemos que continuamos os mesmos. Os Leite. Gremistas. Apaixonados por cinema. Por musica. Com um senso de humor incomparavel e invejavel. E sao nesses momentos em que eu queria poder viver duas vezes.

Sao risadas e historias incomparaveis, sao olhares trocados que dizem tudo. E sao dias como o de hoje que me mostram o quao importante eh ter uma familia estruturada - maluca e meio desunida as vezes, diga-se de passagem - mas sempre leal. E lealdade com os seus eh tudo nessa vida. As criancas da familia trazem uma alegria pueril dificil de descrever. Eh ver e sentir. Tenho pensado muito nisso ultimamente - o que vai ser a MINHA familia no futuro. Ou seja, serah que eu vou casar e ter filhos? A ideia nunca me atraiu, mas talvez o fator idade + terapia tenha mudado, little by little, isso em mim. Nao me repugna mais o pensamento de casar. Muito menos o de ter um filho. Eh, eu acho que eu serei mae um dia. (sente-se caso esteja em peh).

O "queria viver duas vezes" lah do inicio deve-se ao fato de que, assim, talvez eu nao teria deixado a distancia entre idades e interesses afastar a familia. Teria aproveitado mais essa parte da minha vida. Mas nao, nao dah. Paciencia. Por ora, resta o consolo de saber que a coisa mais importante na vida eu tenho. E ela eh parte de mim. E isso ninguem me tira. Eh sangue. E nem a morte separa. Soh espero que reencontros como esse nao virem somente mais uma foto num porta-retrato empoeirado na sala da minha mae. Do fundo do meu coracao.


domingo, 4 de abril de 2010

Ressurreicao


Eu nunca fui religiosa. Nunca fui por circunstancias da vida mesmo. Venho de familia de pai descrente. Ponto. E de uma mae que acredita em Deus, sim. Mas nunca foi a favor de fanatismos. Professora de historia, tah explicado. Caso minha criacao tivesse sido diferente, talvez agora eu estaria "missionando" em algum povoado pobre na America Latina. Mas nao.

Jah causei vergonha na familia por, mesmo estudando em colegio catolico, nao saber oracoes (ateh hoje nao sei o Pai Nosso!) e fugir de missas e igrejas. Tambem nao casarei como manda o ritual cristao e muito menos de branco. Nunca pensei em ter filhos (ateh pouco tempo, mas isso eh assunto pra depois). Nenhuma dessas coisas me torna uma herege. Muito menos uma anticristo. Soh sou. Ou melhor, nao sou. Sem culpas. Minha religiao nao permite isso.

A coluna do Moacyr Scliar hoje na ZH tava pra mim. Ele falava exatamente o que eu penso desse momento simbolico que eh a tal da Pascoa. Eh momento de ressurreicao. Isso mesmo. Mas ressurreicao propria. De nos mesmos: do que fomos, somos e algum dia seremos. Talvez seja um momento mesmo para que, ao inves de somente empanturrarmos com chocolates (guilty!) e desfrutarmos do ocio e prazeres de um feriadao (guilty again!), paremos e reflitamos um pouco. Aquela coisa boba mesmo de colocar tudo na balanca e perguntarmos onde queremos chegar ou estar. Ou ser. Whatever.

Viver eh foda, morrer eh dificil, jah dizia o grande idolo de teenage days, RR. "Morrer", nesse caso, eh deixar pra tras tudo que nao nos serve mais. O que nao nos faz bem. O que nao faz mais diferenca. Deixar uma parte nossa morrer eh sempre dificil. Talvez por medo mesmo. Inseguranca. Muito provavelmente por conformismo tambem. O velho conhecido eh sempre mais atrativo e confortavel.

Mesmo achando que estou beeeem longe da tal perfeicao, nessa Pascoa creio que tem muito pouco de mim pra morrer e renascer. Uma dadiva, considerando meu historico de reclamacoes e indignacoes. E defeitos incontaveis. Um milagre ateh!

Eu, como Cristo, como tu, como eles, estou "ressurgindo" tambem. Pronta pro novo. Aceitando o velho como bom e memoravel. Encarando o futuro como um bom companheiro. Sem medo de reencontrar o passado pelas esquinas da vida. Sem culpa de acreditar que o que estah por vir serah muito melhor.

Daqui 365 dias serah tempo de ressurreicao again. Ateh lah, bom, espero que os dilemas sejam outros, os problemas menos tangiveis e a vontade de mudar-melhorar, eterna. Como o corpo de Cristo.

Amem.

sábado, 3 de abril de 2010

End of the line (Traveling Wilburys)





Well it's all right, riding around in the breeze
Well it's all right, if you live the life you please
Well it's all right, doing the best you can
Well it's all right, as long as you lend a hand

You can sit around and wait for the phone to ring, at the end of the line
Waiting for someone to tell you everything, at the end of the line
Sit around and wonder what tomorrow'd bring, at the end of the line
Maybe a diamond ring


Well it's all right, even if they say you're wrong
Well it's all right, sometimes you gotta be strong
Well it's all right, as long as you got somewhere to lay
Well it's all right, every day is judgment day

Maybe somewhere down the road a way, at the end of the line
You'll think of me and wonder where I am these days, at the end of the line
Maybe somewhere down the road when somebody plays, at the end of the line
Purple haze

Well it's all right, even if push comes to shove
Well it's all right, if you got someone to love
Well it's all right, everything'll work out fine
Well it's all right, we're going to the end of the line

Don't have to be ashamed of the car I drive, at the end of the line
I'm just glad to be here, happy to be alive, at the end of the line
And it don't matter if you're by my side, at the end of the line
I'm satisfied

Well it's all right, even if you're old and gray
Well it's all right, you still got something to say
Well it's all right, remember to live and let live
Well it's all right, best you can do is forgive
Well it's all right, riding around in the breeze
Well it's all right, if you live the life you please
Well it's all right, even if the sun don't shine
Well it's all right, we're going to the end of the line