quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Much ado about nothing


No topo da minha lista dos pros em se ter quase 30 anos estah, indubitavelmente, a ausencia de drama na vida. Ou, melhor ainda, da necessidade dele. Quando se eh (bastante) jovem (e mulher), o drama faz parte de tudo. Permeia nossas vidas. Das situacoes mais simples às mais complicadas, ha espaco para o drama 24 horas por dia. Seja ao pegar o onibus, tomar um banho de chuva ou um dia estressante no trabalho, mulheres tendem a relativizar os problemas e aumenta-los com aquela bela ampulheta que eh o drama e transformar suas vidas em um inferno. (Antes fosse o de Dante)

Ah medida em que se envelhece ou se "adquire experiencia" - as you wish - as situacoes cotidianas e corriqueiras - e ateh mesmo as mais "cabeludas" - passam a ser vistas como sempre deveriam ter sido: como realmente sao. Pegou o onibus errado? Acontece. Da proxima vez, leve os oculos junto. Se molhou? Nunca esqueca de levar uma sombrinha na bolsa. Dia dificil? Haverah piores. Tu sabes bem disso.

Os homens canalhas nao nos pegam mais despreparadas, os falsos bonzinhos tambem nao impressionam mais: tente ensinar novos truques para macacos velhos e veja no que dah. Desculpe-me, rapazes, mas voces nao nos enganam mais. Nos, mulheres-de-quase-30, sabemos muito bem o que queremos. Melhor ainda: o que NAO queremos tambem. Entao, nem perca seu tempo.

A ausencia de drama traz consigo mais paz e equilibrio. Traz serenidade. Os amores impossiveis e arrebatadores ficam na tela do cinema. E, que bom: paixoes que nos fazem perder o chao dao trabalho. Bom mesmo eh amar e ser amado, de igual pra igual, como se eh: sem falsas esperancas e expectativas. No trabalho, progresso eh sempre bem-vindo. Mas tambem nao existe mais tanta pressa, imediatismo. One step at a time. Baby steps, se necessario. Nao se chora mais por qualquer final bobo de filme, nas se sofre mais tanto por futebol: nao vale a pena, after all.

Eu sempre fui adepta ah vida de Drama Queen. Apesar de toda minha praticidade, o drama fazia-se sempre presente. Nas duvidas diarias, no imediatismo, no coracao que insistia nao acompanhar a minha admiravel e invejavel razao. Agora, coracao e cerebro andam juntos: demorou! Nem muito aqui, nem muito lah. Que bom que eh envelhecer. O drama deixo pra Julieta. Se amar e sofrer daquele jeito fosse bom, o final dessa historia seria bem diferente. Eu quero normalidade. E essa eh a maior revolucao de todas.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

O Gremio Foot-ball Porto Alegrense e eu





Depois do fatidico dia 18 de agosto de 2010, eu pensei que minha vida, gremista fervorosa que sempre serei, iria mudar (pra pior). Felizmente, o sol nasceu como de costume no outro dia, o mundo nao parou de girar, a vida seguiu seu rumo. A America estaria vermelha agora. E o Rio Grande do Sul, consequentemente, tambem. Contudo, consegui conviver harmoniosamente com meus "coirmaos", agora tambem bicampeoes da Libertadores. Nao sei se eh a idade, o espirito esportivo que cresceu dentro de mim ou a tal da maturidade mesmo: simplesmente me diverti. Ha alguns anos, eu nunca imaginaria ficar na boa com um titulo colorado. Ateh porque nem era comum isso acontecer mesmo... :P
Devo aqui deixar registrado os meus parabens a todos meus amigos e alunos colorados e, como disse hoje, em alto e bom tom, espero o mesmo tratamento quando meu time for campeao (porque ele sera, obviamente). Se preciso for, imprimirei uma copia desse texto para que nos, gremistas, sejamos tratados com o mesmo respeito que eu vi meus companheiros de time tratando o "rival". Fair play. Foi bonito.
Rasgacoes de seda ah parte, hoje um aluno me perguntou PORQUE eu era gremista. Ele, com seus 8 anos de idade, realmente nao deve entender porque uma pessoa em sua sa consciencia escolheria um time que nao "ganha nada". E a pergunta - pertinente - me fez tentar relembrar as origens do meu gremismo. "Por que eu sou gremista e nao sou colorada?"
Um filme veio ah minha cabeca: desde pequena, gremista. Familia: 99% gremista. Tantas Copas do Brasil. Libertadores. Gauchoes. Emocoes. Choros. Gritos. Brigas. Garra. Determinacao. A inesquecivel batalha dos aflitos que os colorados adoram menosprezar (com seu pequeno grau de razao, claro). Lembrei do mundial que eu vi meu time perder em 95. Como eu chorei e briguei. Lembrei do Felipao. Do Mano. Do Jardel - Paulo Nunes- Carlos Miguel. E eu vivi tudo isso. Eu VIVI. Entao, olhei pro meu aluninho, sedento por uma resposta, e disse: porque, como tu, eu vi meu time ganhar tudo. E eu sei como eh maravilhoso o sabor da vitoria e amargo, o da derrota. Ele nao entendeu patavinas, porque ele soh viu o Inter vencedor. O inabalavel e temido time. E eu sei como eh. Nos, tricolores, sabemos.
Eu jah tive minha parcela de derrotas. Comemorei muito com meu time tambem. Claro. Mas essas coisas sao inerentes ah vida e ao futebol: se perde, se ganha. Eh ciclico. Mas por que eu sou gremista entao??? Eu sou porque minha familia toda eh. Nao, nao eh uma boa resposta essa. Nao eh, porque minha irma virou a casaca e agora comemora o bicampeonato da Libertadores. Nao, nao eh pela familia nao. Por que raios eu sou gremista ateh hoje entao?





Eu nasci no dia 15 de setembro. A mesma data da fundacao do Gremio. Hm. Uma boa explicacao essa. Ou ateh uma boa desculpa pros colorados chatos e insistentes. Mas nao, tambem nao eh por isso.
Buscar respostas pra sentimentos nem sempre eh possivel. Eh por isso mesmo que sao chamados "sentimentos": eh pra ser sentido, nao explicado, muito menos racionalizado. A unica coisa que eu sei, de fato, eh que eu amo o Gremio. Amo a combinacao das suas cores. Amo o hino. Amo o estadio. Amo sua historia. Seus jogos me emocionam e mexem comigo. Ontem, assistindo ao jogo do Inter, eu tentava sentir algo: empatia, raiva, whatever. Nao conseguia. Nada. Zero. Niente.
Dai que eu entendi: como amores e amigos, time de futebol eh escolha. E da mesma forma que escolhemos nossos afetos por razoes pessoais (unicas e intransferiveis) e tambem pela quimica, eu escolhi o Gremio. E ele me escolheu. Ele mexe comigo. Estando na Serie A ou Z. E eh por essas e muitas outras que, falta de originlidade ah parte, estarei com o Gremio onde o Gremio estiver.

Greminho querido, valeu pelas noites em claro, pelas bebedeiras, pelas brigas e pelo mau humor tambem. Valeu por esse turbilhao de emocoes. Que tu continues mexendo comigo, como sempre fizeste. "Abalando" minhas estruturas. Mas, de joelhos, tambem te peco: nao me facas esperar muito. Porque sinto falta da cor do ceu nas ruas. De caminhar pelo paraiso. Mesmo. Chega de inferno. Beijo no coracao.





segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Poeira neles

Se meu saudoso Tio Renato ainda estivesse vivo, ele me daria o mesmo conselho batido - mas sempre bem-vindo - de sempre: poeira neles! Traduzindo, pra quem nao eh um Pinto, "poeira neles" eh mais ou menos como, para os leigos, "se ficar o bicho pega, se correr o bicho come" ou, melhor ainda, "a melhor defesa eh o ataque". Prefiro a traducao boba de "pedras que rolam nao criam limo". Esse eh meu motto.

A tal zona de conforto eh um lugar bem sedutor: sempre seguro, quase sempre legal, mas tambem muitas vezes entediantemente previsivel. Eh essa zona que, meio que sem querer, nos pega de surpresa e, traicoeiramente, nos apunhala e nos dah uma falsa sensacao de estabilidade. De que tah tudo bem. E de que as coisas serao assim pra sempre. Eh assim quando se tem o mesmo emprego ha muito tempo. A regra tambem vale pra relacionamentos. Eu trato a zona de conforto como "pegadinha". Eu tenho medo dela. E contra ela, eu faco uso de arrudas e alhos se preciso.

Eh triste, mas nos acomodamos. To tell you the truth, acho que ninguem quer passar a vida inteira correndo atras do relogio e vivendo em funcao de prazos e metas. Claro que nao. Parar no tempo, no entanto, tambem nao dah. Como ser feliz, entao? Nao eh facil. Nunca foi. Nunca serah. Seguir em frente cansa. Optar pelo novo dah medo. Chutar baldes pode machucar. Na zona de conforto, por sua vez, soh calmaria. Por isso que digo e repito: eh preciso muita coragem pra abandonar o certo e previsivel. Eh preciso muita forca e determinacao pra nao deixar nossas pedras mofarem.

Nunca tive medo de mudancas: bem pelo contrario! Eu acredito que todas mudancas serao sempre pra melhor. Em uma primeira instancia pode parecer devastadora, avassaladora ou amedrontadora. (oraaa!) Passada a bonanza, a calmaria. E assim chega a hora de agarrar as novas oportunidades com unhas e dentes e nao olhar pra tras. Porque mudar requer perder tambem. E eh preciso coragem pra abrir mao de coisas boas.

Ando com muita sede do novo. Tenho batalhado para tanto. Confio no imprevisivel, no desconhecido. Nao nasci pra mesmice. Temo mais a zona de conforto do que mudancas constantes. Preciso de oleo constante pra mover meu motor. Senao, tudo para de funcionar. Dai nao ha Santo que ajude, nem mandinga que resolva: fodeu.

Quem vive de passado eh museu. Quem tem medo de mudar e parou no tempo, vai ser devorado pela mareh. E vai comer muita poeira. Meu tio sempre teve razao. Poeira neles. Porque o mundo eh SIM daqueles que acreditam em seus sonhos e no poder da evolucao.

Pra frente Brasil, salve-se quem puder!!!!


sexta-feira, 6 de agosto de 2010

O saudoso D.


Eu tive um colega uma vez que falava tudo o que pensava. Nao, nao, nao do jeito "eu sou autentico e sincero" que voces provavelmente estejam pensando. Nao. Ele falava tudo mesmo. TUDO. Ele nao era sincero, muito menos verdadeiro: ele nao tinha nocao mesmo. Faltava aquele filtro, aquele discernimento, aquele freio na lingua que nos impede de falar tudo o que nos vem ah mente devido a convencoes sociais bobas. Lembro que, naquela epoca, nos, adolescentes nos seus 14, 15 anos, achavamos deveras engracado uma pessoa proferir as coisas que soh alguem como ele poderia emitir. As vezes dava ateh medo. Lembro tambem de um episodio em que ele brigou com a nossa excelentissima professora de historia - que, por uma pegadinha do destino eh minha progenitora tambem - por um motivo ridiculo qualquer: a aula estava no fim, tinhamos que entregar o trabalho proposto e feito em aula e, como nao havia mais tempo, o colega teve que entregar o trabalho numa folha de caderno com as "rebarbas". Minha mae disse que nao tinha problema, o conteudo era o que importava. O amigao, por sua vez, se agarrou na folha de papel e disse que nao sairia dali se nao pudesse cortar as rebarbas e entregar um trabalho "decente". A inutil discussao durou mais do que duraria cortar a maldita folha, mas, com ele, as coisas eram assim mesmo: dificeis. Teatrais. Circenses.

Hoje lembrei muito desse colega e dos inumeros inusitados momentos que ele nos proporcionou no nada saudoso inicio do Ensino Medio. Nao sei bem porque eu lembrei dele, soh sei que esses momentos vieram ah tona inesperadamente. Acho que devo isso ao fato de que, no fundo - bem lah no fundo, por mais sincera que eu seja, eu nao posso dizer TUDO que eu realmente penso e sinto. Porque assim passaria fome, nao teria emprego, nao teria pessoas ao meu redor, etc, etc e tal. As vezes me bate uma vontade visceral de ser maluca total e sair falando o que eu penso, sem filtros nem moral. Seria caotico, mas divertido. Dar vazao aos sentimentos mais absurdos e sair vomitando verdades. On the other hand, what comes around, goes around. Certamente eu teria que enfrentar a dura realidade de tambem ouvir coisas as quais eu talvez nao estivesse preparada para ouvir. Fair enough.

Lembrei tambem que tinha uma paixonite por esse colega - que nunca me deu bola. MESMO. Eu sempre tive atracao por gente estranha (desculpe-me se voce faz parte desse grupo, no offense!) E sincera. Acho que, na epoca, a paixao com a qual ele exprimia suas verdades e as defendia com unhas e dentes (um bom eufemismo pra "falta de nocao) me encantava. A frustracao de ser desprezada pelo rapaz tambem me fez mal. Obviamente, isso nao representa nada na minha vida. Alias, acho divertido relembrar como nos mudamos, evoluimos e - amem! - crescemos. Ouvi dizer que ele eh pai. Nem recordo quem me contou. Soh sei que, onde quer que ele esteja, devo a ele muitas risadas. E uma invejinha branca de saber que existem pessoas no mundo que nao se preocupam com o amanha. Mesmo que isso machuque e dilacere. Os outros, claro.

domingo, 1 de agosto de 2010

A hora da verdade

Ele foi ao banho. Ela ficou na cama. Espreguicou-se, pensou em dormir mais um pouco. Afinal, era domingo. O melhor dia de todos. O dia do amor. Ouvia, ao fundo, o barulho da agua caindo. De chuva. Coisa boa, ela pensou. Ao virar-se na cama, viu aquele aparelho ali, esquecido. Jogado. Dando sopa. E agora? Olhar ou nao olhar? A tentacao era grande. Muito. A ignorancia eh uma bencao, pensou. Pra que estragar algo que era perfeito? Nao tinha o que ver ali. Ai meu Deus! Revirou-se algumas vezes. No banheiro, a agua do chuveiro ainda corria. Dah tempo, pensou. Nao resistindo, foi lah e ligou. Medo. Aquele ato poderia mudar suas vidas para sempre. Destruir uma imagem. Acabar com um sonho que vivia acordada. Olhou tudo. E sim, tudo como previra: aquele Ipod tinha as melhores bandas e musicas do mundo. Nao era ah toa que ele era o the one. Agora ela tinha certeza. E foi dormir cantarolando qualquer cancao boba de amor.

All that you can't leave behind


Sair da rotina eh sempre bom: nao importa por quanto tempo, nem porque. O que realmente importa eh aventurar-se pelo mundo e mudar a ordem das coisas. Nada daquele acorda, trabalha, come, pensa, corre, trabalha, come, dorme. Nao. Nada disso. Relogio fica em casa, nem vai na mala. Celular, muito menos. Ferias.

5, 10, 30 dias, que seja. Feria sao sempre ferias. Melhor ainda se desfrutadas ao lado de pessoas especiais em um lugar bacana. Pessoas: eh sobre elas mesmo que eu quero falar. Quem me conhece sabe que eu sou 8 ou 80: as vezes muito comunicativa; noutras, quieta; noutras tantas, meio autista ateh. A verdade eh que eu nasci pra conviver e trabalhar com pessoas. Mas elas me cansam. Muito. Por isso que, de quando em vez, eu preciso desse meu silencio, que, muitas vezes eh mal compreendido pelos outros. Whatever. Fato eh que, ultimamente, boa parte de mim tem ficado cada vez mais individualista, talvez ateh egoista - don't take me wrong, please. Aprendi a viver muito bem comigo mesma - SOH comigo - que convivencia me deixa, em alguns momentos, nervosa, estressada, braba. Triste ou nao, isso aconteceu comigo.

Passar 10 dias em Buenos Aires rodeada de (minha) gente poderia me dar ataques de panico ate. Mas nao, nao deu. Nao deu porque, gracas ao meu bom Deus e as pessoas que escolhi pra fazerem parte da minha vida, nenhum homem eh uma ilha, como jah disse uma vez John Donne. Nao adianta. Pessoas sao pessoas. Sao chatas, barulhentas, com muitos defeitos, mas, sim, precisamos delas. Precisamos porque nos completam, nos ajudam a crescer, a transformar pequenos momentos tolos em grandes e inesqueciveis. Sao de carne e osso, como eu. Erram, acertam, pedem desculpa (ou nao). Pessoas.

Como disse anteriormente, pessoas andavam me cansando. Como lido com elas 24-7, acabei ficando um pouco intolerante: com colegas de trabalho, com velhos amigos, com gente desconhecida. Acontece. Meu psicologo entende isso como um grande progresso na minha vida, depois de um ano arduo de terapia: estou finalmente vendo pessoas e a vida como elas realmente sao, e nao como eu queria que elas fossem. Talvez ele tenha razao. Soh sei que quem convive comigo, sabe ao que me refiro. Perdi aquela aparente paciencia e sorriso no rosto, as vezes forcados, confesso, e passei a falar verdades pra todos: ateh pros que nao mereciam. Minha maior qualidade e defeito sempre foram o mesmo: a sinceridade. Eu nao suporto falsidade, quero a verdade e atitudes contundentes sempre, tanto minhas como dos outros. Eh pedir demais? Nao sei. Soh sei que, com quase 30 anos, se eu nao puder escolher quem e o que eu quero na minha vida, prefiro nao viver entao. Drastica assim.

O bom dessas mini-ferias que tive foi o fato de eu ter percebido que, sim, estou certa em selecionar cada vez mais e ser verdadeira, autentica. Sempre fui assim. Felizmente, essa viagem me mostrou tambem que, por mais autista e durona que eu seja as vezes, por mais que eu suma da vidas pessoas, nao de noticias, nao trate minhas (verdadeiras) amizades como acho que deveria, pessoas (do bem e de bem) sempre me farao bem. E serao a diferenca naqueles dias em que o relogio eh tudo o que seguimos. Pode ser por 3 minutos no telefone, 15 no Messenger ou num longo papo regado ah cerveja, sem amigos nao viveria. E sao a essas pessoas que eu devo esse post.







“Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse a casa dos teus amigos ou a tua própria; a morte de qualquer homem diminui-me, porque sou parte do genero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti”.

John Donne