Eu tive um colega uma vez que falava tudo o que pensava. Nao, nao, nao do jeito "eu sou autentico e sincero" que voces provavelmente estejam pensando. Nao. Ele falava tudo mesmo. TUDO. Ele nao era sincero, muito menos verdadeiro: ele nao tinha nocao mesmo. Faltava aquele filtro, aquele discernimento, aquele freio na lingua que nos impede de falar tudo o que nos vem ah mente devido a convencoes sociais bobas. Lembro que, naquela epoca, nos, adolescentes nos seus 14, 15 anos, achavamos deveras engracado uma pessoa proferir as coisas que soh alguem como ele poderia emitir. As vezes dava ateh medo. Lembro tambem de um episodio em que ele brigou com a nossa excelentissima professora de historia - que, por uma pegadinha do destino eh minha progenitora tambem - por um motivo ridiculo qualquer: a aula estava no fim, tinhamos que entregar o trabalho proposto e feito em aula e, como nao havia mais tempo, o colega teve que entregar o trabalho numa folha de caderno com as "rebarbas". Minha mae disse que nao tinha problema, o conteudo era o que importava. O amigao, por sua vez, se agarrou na folha de papel e disse que nao sairia dali se nao pudesse cortar as rebarbas e entregar um trabalho "decente". A inutil discussao durou mais do que duraria cortar a maldita folha, mas, com ele, as coisas eram assim mesmo: dificeis. Teatrais. Circenses.
Hoje lembrei muito desse colega e dos inumeros inusitados momentos que ele nos proporcionou no nada saudoso inicio do Ensino Medio. Nao sei bem porque eu lembrei dele, soh sei que esses momentos vieram ah tona inesperadamente. Acho que devo isso ao fato de que, no fundo - bem lah no fundo, por mais sincera que eu seja, eu nao posso dizer TUDO que eu realmente penso e sinto. Porque assim passaria fome, nao teria emprego, nao teria pessoas ao meu redor, etc, etc e tal. As vezes me bate uma vontade visceral de ser maluca total e sair falando o que eu penso, sem filtros nem moral. Seria caotico, mas divertido. Dar vazao aos sentimentos mais absurdos e sair vomitando verdades. On the other hand, what comes around, goes around. Certamente eu teria que enfrentar a dura realidade de tambem ouvir coisas as quais eu talvez nao estivesse preparada para ouvir. Fair enough.
Lembrei tambem que tinha uma paixonite por esse colega - que nunca me deu bola. MESMO. Eu sempre tive atracao por gente estranha (desculpe-me se voce faz parte desse grupo, no offense!) E sincera. Acho que, na epoca, a paixao com a qual ele exprimia suas verdades e as defendia com unhas e dentes (um bom eufemismo pra "falta de nocao) me encantava. A frustracao de ser desprezada pelo rapaz tambem me fez mal. Obviamente, isso nao representa nada na minha vida. Alias, acho divertido relembrar como nos mudamos, evoluimos e - amem! - crescemos. Ouvi dizer que ele eh pai. Nem recordo quem me contou. Soh sei que, onde quer que ele esteja, devo a ele muitas risadas. E uma invejinha branca de saber que existem pessoas no mundo que nao se preocupam com o amanha. Mesmo que isso machuque e dilacere. Os outros, claro.
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