Eu sempre fui adepta à teoria de que existem diferentes perfis de pessoas. Tem aqueles que nasceram pra constituir família, casar, ter uma penca de filhos e renunciar todo egoísmo possível pra dar vazão ao altruísmo - digníssimo sentimento esse. Tem os que nasceram pra estudar, meter a fuça nos livros, passar horas em bibliotecas e laboratórios afora pra provar por A mais B que a teoria deles é melhor do que a de outrem. Tem gente que nasce com dom artístico. Tem gente que nasceu pra viver uma vida pacata e conformada. Outros nasceram pra política. Alguns pra nunca terem um porto-seguro. Muitos tantos nem sabe onde se encaixam. Independente de qual perfil cada um tiver, o que importa é que não existe certo nem errado. Existe felicidade. Satisfação com o caminho escolhido. Alegria em ser o que se é. E aceitar seu perfil com tudo que ele inclui: loucuras, paranóias, medos, inseguranças e muito mais.
A maioria das nossas escolhas é proporcionalmente influenciada pelo nosso "perfil de pessoa". Ou seria o contrário? Indagações à parte, eu sempre fui do perfil "o mundo é muito grande pra se ficar num lugar só". Eu sempre amei música, cinema, livros e arte em geral. E o fato de eu amar Inglês e ter escolhido dele a minha profissão já diz muito sobre mim. E sobre meu perfil: fadada a passar a vida como itinerante. Inquieta. Buscar conhecer cada vez mais do mundo parece ser intrínseco aos professores de língua estrangeira. É um sentimento meio que sem explicação de sempre querer saber como as pessoas vivem fora daqui, querer conhecer tudo e não se contentar com reportagens especiais do Globo Repórter ou com o Zeca Camargo perambulando pelos quatro cantos do mundo: We have to see it for ourselves.
Minha vontade imensurável de conhecer o mundo me acompanha desde pequena. Acho que se explica um pouco pelo fato de eu ter uma mãe professora de história e um pai que me apresentou ao British rock muito cedo, sem mencionar os filmes de James Bond, Spielberg e mucho mais. A curiosidade foi sendo cada vez mais aguçada. Queria muito ver tudo aquilo que eu via nos livros e nos filmes com meus próprios olhos. Sem contar a vontade constante de poder falar Inglês 24 horas por dia. Really appealing.
De lá pra cá, muita coisa aconteceu. Muitos sonhos de viagem foram concretizados, tenho muitos outros ainda por planejar e conhecer. Uma certeza fica, sem dúvida: quanto mais se viaja, mais se quer. Aquela velha história do "quanto mais se estuda, menos se sabe". Viajar é um vício. Vício extremamente caro pra quem vem de família de classe média e sempre teve que arcar com os sonhos com o próprio suor do trabalho. Não me queixo, assim as coisas têm um gostinho melhor: o mérito é meu. Fiz e aconteci. E o cartão de crédito gritando no vermelho será dor de cabeça somente nos meses seguintes. Quanto mais se viaja, mais se quer conhecer do mundo. O que nos deixa mais inquietos e, infelizmente, descontentes com nosso dia-a-dia sometimes. Mas é investimento que fica. Será teu pra sempre. Na volta, todo mundo parece bastante interessado em ver fotos e ouvir causos. Decorridos 5 minutos, os bravos amigos já se entediaram de tanto falatório non-sense. Conclusão: viajar é intransferível. Ninguém tem culpa de não se interessar. A viagem é e sempre será tua. De mais ninguém. Um outro mundo visto pelos teus olhos. E certas impressões valem mais do que qualquer carro zero ou calça jeans de 300 reais.
Se eu pudesse, moraria num aeroporto. Amo-os. Sou fascinada por aquele corre-corre, aquela dinâmica toda de pessoas coming and going all the time. Sentimento inexplicável. Minha mãe (e Freud provavelmente concordaria) acha que eu tenho medo de criar vínculos e de assumir a vida adulta. Tou sempre querendo fugir. Buscando o inalcançável. Meu amor por Holden Caufield não é à toa, amigos. Talvez ela tenha razão. Agora, porém, isso é tudo muito irrelevante. A perspectiva de voar longas distâncias novamente me deixa eufórica e ansiosa: lá vou eu desbravar mais um pedacinho do mundo. Ficar mais uma vez enebriada com gente e culturas diferentes. 30 dias realizando um grande sonho e conhecendo um lugar que muito me encanta. Provavelmente me apaixonarei mais uma vez e voltarei com aquele aperto no coração de "por que isso sempre acontece comigo?". É ver pra crer. E, na volta, encarar a dura realidade de ter que ter um ponto fixo no mapa. Às vezes acho que sou louca e que faço as coisas pra pensar depois. Mas não, sem ilusões, essa sou eu e viajar faz parte de quem eu sou. Malditos perfis!