sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Leaving on a jet plane



Eu sempre fui adepta à teoria de que existem diferentes perfis de pessoas. Tem aqueles que nasceram pra constituir família, casar, ter uma penca de filhos e renunciar todo egoísmo possível pra dar vazão ao altruísmo - digníssimo sentimento esse. Tem os que nasceram pra estudar, meter a fuça nos livros, passar horas em bibliotecas e laboratórios afora pra provar por A mais B que a teoria deles é melhor do que a de outrem. Tem gente que nasce com dom artístico. Tem gente que nasceu pra viver uma vida pacata e conformada. Outros nasceram pra política. Alguns pra nunca terem um porto-seguro. Muitos tantos nem sabe onde se encaixam. Independente de qual perfil cada um tiver, o que importa é que não existe certo nem errado. Existe felicidade. Satisfação com o caminho escolhido. Alegria em ser o que se é. E aceitar seu perfil com tudo que ele inclui: loucuras, paranóias, medos, inseguranças e muito mais.

A maioria das nossas escolhas é proporcionalmente influenciada pelo nosso "perfil de pessoa". Ou seria o contrário? Indagações à parte, eu sempre fui do perfil "o mundo é muito grande pra se ficar num lugar só". Eu sempre amei música, cinema, livros e arte em geral. E o fato de eu amar Inglês e ter escolhido dele a minha profissão já diz muito sobre mim. E sobre meu perfil: fadada a passar a vida como itinerante. Inquieta. Buscar conhecer cada vez mais do mundo parece ser intrínseco aos professores de língua estrangeira. É um sentimento meio que sem explicação de sempre querer saber como as pessoas vivem fora daqui, querer conhecer tudo e não se contentar com reportagens especiais do Globo Repórter ou com o Zeca Camargo perambulando pelos quatro cantos do mundo: We have to see it for ourselves.

Minha vontade imensurável de conhecer o mundo me acompanha desde pequena. Acho que se explica um pouco pelo fato de eu ter uma mãe professora de história e um pai que me apresentou ao British rock muito cedo, sem mencionar os filmes de James Bond, Spielberg e mucho mais. A curiosidade foi sendo cada vez mais aguçada. Queria muito ver tudo aquilo que eu via nos livros e nos filmes com meus próprios olhos. Sem contar a vontade constante de poder falar Inglês 24 horas por dia. Really appealing.

De lá pra cá, muita coisa aconteceu. Muitos sonhos de viagem foram concretizados, tenho muitos outros ainda por planejar e conhecer. Uma certeza fica, sem dúvida: quanto mais se viaja, mais se quer. Aquela velha história do "quanto mais se estuda, menos se sabe". Viajar é um vício. Vício extremamente caro pra quem vem de família de classe média e sempre teve que arcar com os sonhos com o próprio suor do trabalho. Não me queixo, assim as coisas têm um gostinho melhor: o mérito é meu. Fiz e aconteci. E o cartão de crédito gritando no vermelho será dor de cabeça somente nos meses seguintes. Quanto mais se viaja, mais se quer conhecer do mundo. O que nos deixa mais inquietos e, infelizmente, descontentes com nosso dia-a-dia sometimes. Mas é investimento que fica. Será teu pra sempre. Na volta, todo mundo parece bastante interessado em ver fotos e ouvir causos. Decorridos 5 minutos, os bravos amigos já se entediaram de tanto falatório non-sense. Conclusão: viajar é intransferível. Ninguém tem culpa de não se interessar. A viagem é e sempre será tua. De mais ninguém. Um outro mundo visto pelos teus olhos. E certas impressões valem mais do que qualquer carro zero ou calça jeans de 300 reais.

Se eu pudesse, moraria num aeroporto. Amo-os. Sou fascinada por aquele corre-corre, aquela dinâmica toda de pessoas coming and going all the time. Sentimento inexplicável. Minha mãe (e Freud provavelmente concordaria) acha que eu tenho medo de criar vínculos e de assumir a vida adulta. Tou sempre querendo fugir. Buscando o inalcançável. Meu amor por Holden Caufield não é à toa, amigos. Talvez ela tenha razão. Agora, porém, isso é tudo muito irrelevante. A perspectiva de voar longas distâncias novamente me deixa eufórica e ansiosa: lá vou eu desbravar mais um pedacinho do mundo. Ficar mais uma vez enebriada com gente e culturas diferentes. 30 dias realizando um grande sonho e conhecendo um lugar que muito me encanta. Provavelmente me apaixonarei mais uma vez e voltarei com aquele aperto no coração de "por que isso sempre acontece comigo?". É ver pra crer. E, na volta, encarar a dura realidade de ter que ter um ponto fixo no mapa. Às vezes acho que sou louca e que faço as coisas pra pensar depois. Mas não, sem ilusões, essa sou eu e viajar faz parte de quem eu sou. Malditos perfis!

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Estamos todos bem



- Mercedes?

- Oi?!? Diegoooo, nao acredito!

- Sabia que era tu!

- Como tu me achou aqui, no meio dessa gente toda?

- Eu tava indo no banheiro ali e acho que te reconheci pela blusa. Fui eu que te dei, neh?

- Eh, eh verdade.

- E o ... Como eh mesmo o nome dele?

- Ricardo!

- Ricardo, isso, Ricardo!

- Vai bem. Nao veio hoje. Tava meio indisposto.

- Indisposto, eh? Estranho...

- Estranho por que? (com acento!)

- Ueh, sei lah, estranho...

- Que tu tah querendo dizer, Diego?

- Nada nao, Mercedes, deixa de ser neurotica.

- Ah, mas sempre tu tem que vir com esses comentariozinhos sacanas assim, jogados ao vento...

- Nao falei nada de mais, Mercedes.

- Sempre assim!

- Mercedes?

- Que foi, Diego?

- Vou no banheiro, tah?


E naquele instante Mercedes e Diego lembraram que soh ficavam bonitos juntos nas fotografias. Agora amareladas, cobertas de poeiras, jogadas ao fundo de uma caixa de Alpargatas.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Saga



A primeira vez que te vi


Tu tinha um cigarro na boca. Era inverno. Ventava e chovia lah fora. Tu vestia uma jaqueta e uma calca jeans igualmente surradas. O barulho e as vozes nao pareciam te importunar: tragava teu cigarro como se nao tivesse ninguem ao redor. Nem a musica dos Stooges te fazia perder a pose. Tu continuava ali: inerte. Tu e teu cigarro. Como se nao existisse um outro mundo alem do teu. Nao sei bem se foi nesse instante em que eu me apaixonei. Ou se foi depois. Soh sei que eu nunca vou esquecer aquele momento em que tudo parou. Pelo menos pra mim.

Eu nao era a unica que te notara. E tu sabe muito bem disso. Foi nascer bonito. Fazer o que. Sei que nao foi o rosto a la Gael, muito menos o jeito displicente do Luna. Foi o modo como tu tragava aquele cigarro. Como se fosse o unico no mundo. O primeiro. O ultimo. Sedento. "Imagina aquele homem comendo uma mulher", eu provavelmente pensei. Foi tudo culpa do cigarro. Tua devocao a ele. Nao foi o cabelo, certamente nao foi o sorriso tambem. Nem teu charme contagiante. Maldito cigarro. Se tu nao fumasse, minha vida teria rumo. Philip Morris, esse eh o culpado.


A primeira vez que te tive


Nao foi o cigarro dessa vez: foi tua voz. Forte, mas aveludada. Como um beijo sussurrado no ouvido. A primeira palavra proferida e consegui te imaginar cantando "Something" ao peh do meu ouvido. Nao restavam mais duvidas. Passara no teste. Sempre soube que o homem da minha vida seria aquele que cantaria a musica do Beatle George pra mim. Dito e feito. Era tu. Ninguem mais. Afinidades. As horas passaram como se fossem segundos. Eu nem lembro mais quem tomou a iniciativa. Soh sei que eu fui parar na tua cama. Melhor ainda: nos teus bracos. E nao teve Beatles no ouvido. Nem precisava. Senti-me como o cigarro daquela noite: devorada. E, pra mim, isso bastava.


A vez em que te conheci


Ventilador ligado. Calor incandescente. Tu nao tava legal, eu lembro. Tinha uma cerveja na geladeira. Um cigarro no maco. O cinzeiro, cheio. E tu, cheio de mim. "Nao dah mais." E 5 minutos depois, eu tava na rua. "Toma!", tu me disse, entregando aquele ultimo cigarro, "tu vai precisar." E fechou a porta. Fechou tua vida pra mim. O ultimo cigarro foi fumado na frente do teu prédio. Na escadaria. Eu, o Philip e as lagrimas. Na rua, o silencio contrastava com a bagunça dentro de mim. Ainda era noite ou jah era dia? E a cada tragada, eu te sentia indo embora. Era como se tu estivesse, gradativamente, desaparecendo da minha vida. As cinzas caindo no chao. Um pouco mais de lágrimas. Fumei ateh o filtro na esperança de te ter um pouco mais comigo. Acabou. Joguei a bituca no chao e nao olhei pra tras. A duvida doi menos que a certeza.


A ultima vez que te vi


Tu jah tinha voltado pra ela, presumo. Tu usava a mesma jaqueta daquela primeira vez. E os mesmos oculos que eu tanto amava. Te vi na rua. Tu nao me viu. Pra falar a verdade, nao fiz muita questao de ser vista. Te deixei passar. Livre. Sereno. Feliz. Queria gritar, correr em tua direcao, te dizer que te amava. Que ainda tinha muito pra gente viver. E passou um filme na minha cabeca. Te vi atravessando a rua pra me abracar. E dizer que tudo ia ficar bem. Que juntos nos eramos melhores. Acordei. Tu passou por mim. Como um furacao que levou o melhor que tinha em mim. Meus sonhos. Planos. Sorrisos. E deixou a amargura e o arrependimento. Vai ser no ouvido dela que cantaras "Something". E eu soh tenho que aceitar.



A vida sem ti


Uma pessoa fica viva enquanto a gente lembra dela. Hoje eu enterrei a parte de ti que ainda me atormentava: parei de fumar. Nenhunzinho mais. Os cds dos Beatles, esses eu nao me desfaco nunca. Assim como o Rob de "High Fidelity", isso eh parte de mim. Soh minha. Tu nao vai estragar isso tambem. Hoje eu rezei tua missa. 3 anos. Nunca mais ouvi de ti. Teus amigos nao comentam nada. Acho que eles tem medo. Bobagem. Jah passaram 3 anos. Ouvi dizer que tu nao tah mais com ela. Parece que tu te encheu dela mais uma vez. Previsivel como sempre, tu es. Nao sei se fico feliz ou triste: sinto pena. De mim - nao dela, muito menos de ti. De mim porque te deixei entrar na minha vida. Por nao saber. Porque se eu soubesse, eu nao teria entrado nessa. Mas agora eh tarde pra lamentar. A verdade eh que eu senti muito tua falta. Nunca entendi nada. Nunca te entendi. Tu nunca me conheceu. Nem quis tambem. Mas hoje tu morreu pra mim. Hoje foi o fim. E, olha soh, o Guto, aquele mesmo, o que nos apresentou, veio aqui hoje. Trouxe ceva e um violao. Adivinha o que ele tocou pra mim?

Ps: ele nao fuma! dessa vez vai ser diferente!

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Bloco do Eu sozinho


Gil nunca acreditou em relacionamentos. Ou pelo menos fingia muito bem. Tinha raiva de casais felizes. Odiava a dependencia que muitas vezes vinha no pacote chamado romance. Repugnava o dia dos namorados. Gentileza nao era com ela nao: se abrisse a porta do carro, ela provavelmente sairia correndo. Benzinho, docinho, nenem, eca! - apelidinhos davam-lhe nausea. Vamo toma uma ceva hoje?, ela perguntava pras amigas. Elas, por sua vez, tinham que averiguar com "a outra metade" se eles nao tinham combinado algo diferente pra noite. Sabe como eh, prioridades.

Ateh que um belo dia a borboleta pousou no jardim de Gil. Nao era tao bonito como o sol, o mar e a flor. Nem tao sagaz como Holmes. Nem tao letrado como Shakespeare. Nada ativista como Lennon. Melhor: era real. Era humano. Era falivel.

Gil caiu. E nunca mais se levantou. Um tombo desses, ela pensou, vale mais que mil tolas conviccoes juvenis.



domingo, 17 de janeiro de 2010

A vida dos outros


Jorge sempre quis ser "cool". Achou que tinha nascido pra isso. Vocacao mesmo. Desde pequeninho, quando lhe perguntavam, "Jorge, o que voce quer ser quando crescer?", ele respondia, em alto e bom tom: "Cool!". As tias, tias-avos, primas suspiravam e soltavam um "oooh" conjunto. Seu pai, sempre turrao e pouco paciente, rosnava: "Vai eh ser viado, isso sim. Ser "cool" eh coisa de viado". A mae jah largava um "Cala a boca, Joao, tu nao sabe o que tu tah falando" e incentivava o pequeno Jorge em sua travessia em ser "cool". Mesmo sem saber direito do que se tratava esse "cool". "Serah que eh alguma coisa da televisao?", ela pensava.

Que diabos eh ser cool, afinal? - muita gente desentendida perguntava. (a titulo de curiosidade e pra ingles ver: Slang unruffled elegance or sophistication). Os habitantes da pequena cidade ficavam estarrecidos com tanta petulancia e desejo de mudanca do menino. Por que nao aceita que nasceu pra ser pobre e morar no mato, hein? Jorge era motivo de cochicho e olhadas por onde quer que passasse. Com seu cabelo comprido e suas calcas boca de sino.

Jorge queria ser "cool". Ponto. Cresceu, tomou consciencia de si mesmo e nao mudou de ideia. Aos 16, colocou uma mochila nas costas e foi pro "estrangeiro". Largou a escola, a namorada perfeita (que nao era nada cool, diga-se de passagem), a mae aos prantos com um pano de prato na mao e o pai, gritando, "tu vai te arrepender, meu filho. Devia virar jogador de futebol."

Jorge carregava, alem da mochila, um violao. Porque, pra ser "cool", ele teria que virar um astro de rock. Foi pra Londres. Porque nao tem lugar mais refinado no planeta do que esse. Na mochila, muitos vinis de Iggy Pop, Velvet Underground e todos deuses do rock 60-70. Vinil porque Cd eh coisa de maneh. Pra ser ser "cool" tem que escutar Lp mesmo. Algumas calcas jeans surradas, uns All Stars coloridos e muitos sonhos. Alem de seu diario. "Eh agora que a vida comeca", pensou Jorge.

Jorge jah se considerava abencoado desde o nascimento. Nao era ah toa que se chamava Jorge. Tinha "quase" o nome do famoso Beatle. O mais "cool" de todos. Sabia, no fundo, que seu pai nem suspeitava quem eram Lennon e McCartney (imagine George Harrison entao!) e dificilmente saberia indicar onde Liverpool ficaria no mapa. Irrelevante, seu destino jah havia sido tracado. Livrou-se do mato e da ignorancia. Era livre.

Chegou em Londres, conheceu o mundo. Realizou o maior sonho da vida: tornou-se COOL. Cabelo vermelho, jeans rasgado, guitarra na mao. Encantou as menininhas. Tomou acido. Viciou-se em heroina. Do outro lado do oceano, seu pai continuava ouvindo sertanejo; Sua mae, o Roberto (mas da fase "terno branco" porque o que cantava "Calhambeque" era discipulo do capeta). Deixou as raizes de lado, esqueceu familia, amigos e passado. Deixou tudo pra tras. Virou rock star. Era um Deus.

10 anos depois, cansou de tudo. Viu que dava muito trabalho ser "cool". Cansou do lero-lero das menininhas que o endeusavam. Cansou do barulho da vida noturna. Encheu o saco das drogas. Juntou os trapos que restaram e comprou uma passagem de volta. Voltou. Em casa, nada de novo: a mae cozinhando; o pai assistindo ao Faustao. Deu um abraco apertado nos dois. Ateh derramou algumas lagrimas. Ao entrar no velho quarto, viu que esse sim estava diferente: tinha virado um altar. Sua mae havia recortado noticias de todos jornais e revistas que ele havia aparecido. Entrevistas, posteres. Ateh o unico Cd que sua banda gravara estava lah, ao lado do aparelho de som. "Tu nao vai te arrepender, Jorge?", a mae perguntou. Ele nao respondeu. Aquele quarto era a resposta que sempre havia procurado.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

E o tudo virou nada

Barulho la fora. Do lado de dentro, paz. Como ela nunca pensou que teria novamente. Olhou pro relogio, ja era tarde. Ouviu o agradavel gargalhar das criancas na rua. Os caes latindo. Carros e buzinas. Do lado de dentro, calmaria. Salvo a Tv que, por ironia do destino, estava sintonizada na Mtv. Mike Patton cantava "Easy like Sunday Morning". Ela sorriu. A good start. Ansiara por esse momento por quase uma vida. E ele estava ali. Chegou quando menos esperava. Lah fora, as criancas continuavam a brincar e gritar. Ouvia tambem os sermoes dos pais. Fofocas dos vizinhos. Foi lah fora fumar um cigarro. E o sol brilhava. Nenhuma nuvem, pensou. Do lado de fora, as pessoas. Do lado de dentro, o silencio. A certeza, mesmo que por vezes ilusoria e ingenua, de que tudo seria diferente. Sera? - ela indagou mais uma vez. Porque ela nunca acreditara em calmaria. Acostumara-se com as tormentas e com os tropecos. Com o sofrer. Decidiu nao duvidar. E em meio a um cigarro e um copo de cafe, ela sorriu.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Ch-ch-ch-ch-Changes









"Strange fascination, fascinating me
Ah, Changes are taking the pace I'm going through"


Nunca acreditei que as pessoas mudassem. Sempre cética e racional, até um pouco irredutível às vezes, admito, sempre fui adepta da teoria de que "somos o que somos em essência e contente-se com isso". Hoje, com 27 anos, eu sei que as coisas não são bem assim. Se as coisas mudam, se tudo ao nosso redor muda, se aperfeiçoa (ou piora) por que nós, seres humanos RACIONAIS e aparentemente não condicionados, não podemos? Boa pergunta. Mas ficava por aí. Só na pergunta. Até que hoje, hoje mesmo, uma pessoa muito querida e que tem muito mais bagagem do que eu me olhou nos olhos e me indagou: "Helena, por que as pessoas estudam, querem tanto aprender e se aperfeiçoar se elas não acreditam que podem mudar? Seria inútil, não?" Eu fiquei meio boba, sem ter o que dizer. E fiz aquela cara de pensativa e larguei um "É, tens razão." pra não parecer ignorante. Homem primata mesmo. Um típico "Agripino", na boa definição de papai Pinto.

Continuo achando que, em essência, somos o que somos. E mudar, de verdade, é deveras difícil. Mas não impossível. E perguntei pros meus botões o que eles achavam disso tudo. E eles concordaram com a opinião de outrem. "Sou muito burra", eu pensei. Na verdade, aproveitando a oportunidade pra me redimir do erro, eu nunca tinha percebido que a gente muda mesmo. Repito, não em essência. Tem coisas que talvez tenham nascido com a gente e que não nos abandonarão jamais. E durma-se com um barulho desses. Agora, se a gente realmente não mudasse (pra melhor, pra pior, whatever) what would be the point in being alive then?

Hoje eu também me dei conta de que faz 5 anos que eu me formei. CINCO. 9 de janeiro de 2005. 22 anos. Agora, 27. E muita coisa mudou, tudo mudou. Muito pouco continua o mesmo. O que é mais importante - família e verdadeiros amigos - continua igual. Melhor, também mudou. O sentimento mudou. É cada vez mais forte. Eu mudei de empregos, eu viajei, mudei de opinião e a minha visão sobre o mundo certamente não é a mesma. E se tudo isso mudou, será que eu também, er, hm, talvez não tenha mudado?

É, eu mudei. Lembro da Helena dos 17, a que começou a faculdade. Guriazinha ingênua aquela. Metidinha até. Achava que sabia muito do mundo e que resolveria todos os problemas sozinha. Essa não precisava de ninguém. Era a Leila Diniz em carne e osso. Ao extremo. Até tomar muitas rasteiras. A Helena dos 22 já era um pouco, mas só um pouquinho, mais sábia. Já pedia ajuda pros outros e sabia reconhecer quando errava. E não achava feio isso. A dos 27, well, essa é menos guria, menos ingênua, muito menos metida e mais (in)dependente do que as outras. Dependente porque ela sabe que precisa de pessoas pra ser feliz. Ela sabe que ser independente é uma coisa, precisar dos outros é outra. Agora essa Helena dos 27 sabe que as pessoas mudam sim. Porque ela mudou. Pra pior. Pra melhor. Tem dias e dias. E assim será, enquanto estiver viva e pensando. E disposta a ser.

É, tu tens razão, meu amigo, quando dizes que as pessoas mudam sim. E eu me desculpo pela minha ignorância por nunca ter percebido isso antes.






(as fotinhos são uma meiga tentativa de mostrar como eu "mudei" throughout the years, hahaha)

sábado, 2 de janeiro de 2010

Menos do mesmo


Que todos nós somos dicotomias ambulantes é meio óbvio dizer. E que basicamente as coisas na minha vida são 8 ou 80 também já virou meio que lugar-comum. Pra que repetir, então? Poupá-los-ei dessa vez. Peguei-me pensando agora nesse ano que passou e no que começou agora. E não adianta, por mais simbólico que o momento realmente seja, não tem como escapar das nossas "retrospectivas mentais" e "listas de resoluções" - que, venhamos e convenhamos, todos sabemos que nunca vão se concretizar. E sempre fica aquela "pulga atrás da orelha": o que poderia ter sido diferente, melhor, pior, mais ou menos intenso. Lamentar não adianta mais: passou. Como nuvem passageira, que com o vento se vai, sem plagiar, já plagiando. Resta respirar fundo, guardar no "hd" o que fica de bom e mandar pra "lixeira" o que não foi legal. Sem antes ter certeza de que aprendemos com tais fatos. A mudança é constante e o caminho a ser trilhado é longo e, por vezes, deserto. Mas, desistir jamais! Então, que venha o novo ano, com histórias novas, pessoas iguais e momentos únicos.

O bom de se começar um novo ano é que temos a ingênua ideia de que tudo pode ser diferente. De que temos 365 novos dias pra fazer e acontecer. Prometemos fazer mais exercícios, trabalhar mais, comer menos e visitar mais aqueles velhos amigos que ficaram perdidos em algum lugar entre a adolescência e a Twilight Zone que é virar um adulto. Prometemos. Planejamos. Fazemos listas e mais listas. Temos esperança. Nada de errado nisso, for sure.

Eu, mesmo não sendo supersticiosa, sempre caí na tentação de fazer pedidos à meia-noite do novo ano. Sempre 3. E planejava, pensava, refletia. Tudo por uma vida melhor no ano que estava chegando. Quais seriam os 3 pedidos? Um carro? Não, não. Prefiro andar a pé, de bus, de trem. Não sou muito fã do volante não. Um namorado? É, pois é. Aprendi com o tempo: be careful with what you wish for. Melhor não mexer com essas coisas. Paz mundial? Melhor educação pro povo? Enfim, seriam 3 pedidos altruístas ou egoístas mesmo? Pois sim, durante muitos Reveillons eu tinha que me ocupar em fazer 3 pedidos aos céus. E, bobagem ou não, a maioria deles se concretizou mesmo. Seja por intervenção divina ou força de vontade do ser que vos escreve. Só que esse ano foi diferente. Eu não fiz pedidos. E não fiz listas. Eu não fiz planos. Por que não? Justamente nesse momento mágico em que começamos uma nova década! Vai saber...

Digam o que quiserem, nessa virada de ano optei por inovar. Deixei os desejos de lado, as uvas, a lentilha e todo e qualquer ritual. Deixei de me enganar com planos que sei que não vão sair do papel, com desejos que muitas vezes não dependem somente de mim. Cansei de fazer pedidos por um mundo que nem sempre conspira ao nosso favor. Então, por essas e muitas outras é que eu me despedi de 2009 como se fosse qualquer outro dia. E lá se foi ele. Nem me despedi, na verdade. Deixei ele pra trás. E toda uma década também. A década que me definiu como gente, diga-se de passagem.

A década de 00 foi, digamos, crucial na minha vida. Lá no começo eu tinha humildes 17 anos, começava uma faculdade e não sabia absolutamente NADA sobre a vida. Continuo não sabendo muito não. Mas, pelo menos, agora no ano 10, as quedas não doem mais tanto, os erros são menos estúpidos e as tristezas mudam de nome e endereço constantemente. Com a década do 00 eu descobri minha vocação, comecei a trabalhar, me aventurei pelo mundo, comprei um carro, vendi um carro, saí de casa, voltei pra casa, namorei, acabei, namorei, acabaram comigo, namorei, me apaixonei, sofri, amei, fui traída, chorei, bebi, dormi e muito fiz. E adquiri morada própria. O que continua me assustando, mas pelo menos sei que não jogo o pouco dinheiro que ganho no lixo. Em suma, essa década foi essencial pro meu amadurecimento. E é por isso que, no fundo, me despedir dela tem um significado bem maior, por mais que eu não queira admitir: me despeço dos anos jovens e pueris pra ser o que lá fora chamam de "adulto". Chegou a hora de finalmente crescer. E eu sei que não vai ser fácil. Deixar toda gandaia pra trás, toda falta de preocupação e sonhos insustentáveis de lado. Não será fácil, repito.

Por isso não fiz pedidos. Não quero. Não quero deixar a minha vida à mercê dos deuses ou seja lá quem for que escute a gente nessas horas. Eu quero é encarar os fatos de frente, com sabedoria e leveza. Eu quero poder dizer "agora é comigo!" Eu quero menos do mesmo. Eu quero menos gente no meu Orkut, mas gente que eu sei que vale a pena. Eu quero menos tempo perdido. Eu quero menos barulho por nada. Menos tristeza. Menos dúvidas. Menos gente que nada tem a me acrescentar ao redor. Menos tempo na internet fazendo nada de produtivo. Menos exposição. Quero sentir menos saudades. Falar menos da minha vida pros outros. Quero menos sonhos e ambições que não me levarão a lugar algum. Quero menos intensidade. Quero pisar no freio. Numa socidade em que todo mundo quer mais, é errado querer menos? Acho que não. E se for, eu cansei de querer sempre mais. Eu me contento com menos. Menos coisas ruins. Menos de coisas nada a ver. Menos ilusões. Logo, menos decepções. E o menos, nesse caso, só depende de mim.


Welcome, 2010! E que tu venhas com bem menos golpes e desastres que 2009. E que me tragas menos dores de cabeça e insônia também. Menos pegadinhas. Confio em ti pra me dares menos do mesmo. Menos euforia e empolgação. Mas só mais um pouquinho (bem pouquinho) de malandragem, porque essa, meu caro, nunca temos de sobra. E nunca é demais. Ou de menos.