Que todos nós somos dicotomias ambulantes é meio óbvio dizer. E que basicamente as coisas na minha vida são 8 ou 80 também já virou meio que lugar-comum. Pra que repetir, então? Poupá-los-ei dessa vez. Peguei-me pensando agora nesse ano que passou e no que começou agora. E não adianta, por mais simbólico que o momento realmente seja, não tem como escapar das nossas "retrospectivas mentais" e "listas de resoluções" - que, venhamos e convenhamos, todos sabemos que nunca vão se concretizar. E sempre fica aquela "pulga atrás da orelha": o que poderia ter sido diferente, melhor, pior, mais ou menos intenso. Lamentar não adianta mais: passou. Como nuvem passageira, que com o vento se vai, sem plagiar, já plagiando. Resta respirar fundo, guardar no "hd" o que fica de bom e mandar pra "lixeira" o que não foi legal. Sem antes ter certeza de que aprendemos com tais fatos. A mudança é constante e o caminho a ser trilhado é longo e, por vezes, deserto. Mas, desistir jamais! Então, que venha o novo ano, com histórias novas, pessoas iguais e momentos únicos.
O bom de se começar um novo ano é que temos a ingênua ideia de que tudo pode ser diferente. De que temos 365 novos dias pra fazer e acontecer. Prometemos fazer mais exercícios, trabalhar mais, comer menos e visitar mais aqueles velhos amigos que ficaram perdidos em algum lugar entre a adolescência e a Twilight Zone que é virar um adulto. Prometemos. Planejamos. Fazemos listas e mais listas. Temos esperança. Nada de errado nisso, for sure.
Eu, mesmo não sendo supersticiosa, sempre caí na tentação de fazer pedidos à meia-noite do novo ano. Sempre 3. E planejava, pensava, refletia. Tudo por uma vida melhor no ano que estava chegando. Quais seriam os 3 pedidos? Um carro? Não, não. Prefiro andar a pé, de bus, de trem. Não sou muito fã do volante não. Um namorado? É, pois é. Aprendi com o tempo: be careful with what you wish for. Melhor não mexer com essas coisas. Paz mundial? Melhor educação pro povo? Enfim, seriam 3 pedidos altruístas ou egoístas mesmo? Pois sim, durante muitos Reveillons eu tinha que me ocupar em fazer 3 pedidos aos céus. E, bobagem ou não, a maioria deles se concretizou mesmo. Seja por intervenção divina ou força de vontade do ser que vos escreve. Só que esse ano foi diferente. Eu não fiz pedidos. E não fiz listas. Eu não fiz planos. Por que não? Justamente nesse momento mágico em que começamos uma nova década! Vai saber...
Digam o que quiserem, nessa virada de ano optei por inovar. Deixei os desejos de lado, as uvas, a lentilha e todo e qualquer ritual. Deixei de me enganar com planos que sei que não vão sair do papel, com desejos que muitas vezes não dependem somente de mim. Cansei de fazer pedidos por um mundo que nem sempre conspira ao nosso favor. Então, por essas e muitas outras é que eu me despedi de 2009 como se fosse qualquer outro dia. E lá se foi ele. Nem me despedi, na verdade. Deixei ele pra trás. E toda uma década também. A década que me definiu como gente, diga-se de passagem.
A década de 00 foi, digamos, crucial na minha vida. Lá no começo eu tinha humildes 17 anos, começava uma faculdade e não sabia absolutamente NADA sobre a vida. Continuo não sabendo muito não. Mas, pelo menos, agora no ano 10, as quedas não doem mais tanto, os erros são menos estúpidos e as tristezas mudam de nome e endereço constantemente. Com a década do 00 eu descobri minha vocação, comecei a trabalhar, me aventurei pelo mundo, comprei um carro, vendi um carro, saí de casa, voltei pra casa, namorei, acabei, namorei, acabaram comigo, namorei, me apaixonei, sofri, amei, fui traída, chorei, bebi, dormi e muito fiz. E adquiri morada própria. O que continua me assustando, mas pelo menos sei que não jogo o pouco dinheiro que ganho no lixo. Em suma, essa década foi essencial pro meu amadurecimento. E é por isso que, no fundo, me despedir dela tem um significado bem maior, por mais que eu não queira admitir: me despeço dos anos jovens e pueris pra ser o que lá fora chamam de "adulto". Chegou a hora de finalmente crescer. E eu sei que não vai ser fácil. Deixar toda gandaia pra trás, toda falta de preocupação e sonhos insustentáveis de lado. Não será fácil, repito.
Por isso não fiz pedidos. Não quero. Não quero deixar a minha vida à mercê dos deuses ou seja lá quem for que escute a gente nessas horas. Eu quero é encarar os fatos de frente, com sabedoria e leveza. Eu quero poder dizer "agora é comigo!" Eu quero menos do mesmo. Eu quero menos gente no meu Orkut, mas gente que eu sei que vale a pena. Eu quero menos tempo perdido. Eu quero menos barulho por nada. Menos tristeza. Menos dúvidas. Menos gente que nada tem a me acrescentar ao redor. Menos tempo na internet fazendo nada de produtivo. Menos exposição. Quero sentir menos saudades. Falar menos da minha vida pros outros. Quero menos sonhos e ambições que não me levarão a lugar algum. Quero menos intensidade. Quero pisar no freio. Numa socidade em que todo mundo quer mais, é errado querer menos? Acho que não. E se for, eu cansei de querer sempre mais. Eu me contento com menos. Menos coisas ruins. Menos de coisas nada a ver. Menos ilusões. Logo, menos decepções. E o menos, nesse caso, só depende de mim.
Welcome, 2010! E que tu venhas com bem menos golpes e desastres que 2009. E que me tragas menos dores de cabeça e insônia também. Menos pegadinhas. Confio em ti pra me dares menos do mesmo. Menos euforia e empolgação. Mas só mais um pouquinho (bem pouquinho) de malandragem, porque essa, meu caro, nunca temos de sobra. E nunca é demais. Ou de menos.
Um comentário:
Do, or do not. There is no try.
'Jedi Master Yoda'
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