segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Um tratado sobre o amor inesperado e calejado




No primeiro instante em que Alberto viu Aline foi amor à primeira olhadela. Atitude vibrante, sorriso cativante em seu bocão à la Jagger e voz marcante: Aline era daquele tipo de mulher que ele mais gostava. Independente, dona de si, inteligente, meio assim Leila Diniz e Elis Regina. O melhor tipo de mulher: o dele. E era ela.

Alberto caiu na rede feito peixe. E não conseguia mais parar de pensar naquela mulher que mexia tanto com suas emoções. Novos sentimentos, velhos sentimentos. Pessoa nova. Mas parecia que já a conhecia há anos. Mas de onde? Afinidade. Mesmo compasso. Mesma música. Sintonia.

Fez de tudo pra ter aquela mulher. Apesar do jeito "foda-se o mundo que eu não vim pra cá a passeio" de Aline, não foi tão difícil assim cortejá-la. Nem conquistá-la. Alberto também era, meio que sem saber, o tipo de homem que ela havia sonhado. Porque Aline sentia mas não falava. "Melhor manter o controle da situação!", ela pensava.

Os indícios não mentiam. O fogo no olhar e nas intenções também não. It was meant to be. Alberto fisgou Aline de vez. Nem foi preciso tanto esforço: a admiração era recíproca. Alberto e Aline. Como cerveja e cigarro. Cobertor e dia de chuva. Harry e Sally. Tudo-de-bom que chegava a dar raiva em quem tava de fora.

Mas (porque tem que ter sempre um "mas", não me pergunte porquê!) nem tudo que é bonito no papel, funciona na vida real.

Alberto descobriu que Aline preferia dormir sábado à noite ao invés de sair e encher a cara nos botecos da vida. E que precisava de atenção e carinho. Aline, por sua vez, descobriu que Alberto era muitas vezes distante e frio. E não era nenhum amante latino. Pelo menos, deixara de ser. A vida era pro trabalho. Ou pra todo mundo, menos pra ela. Aline não era tão senhora-de-si como ele havia imaginado. Ou fantasiado, vai saber. Ela tinha medo de baratas e gostava de demonstrações públicas de afeto. Queria que ele segurasse a sua mão, mesmo quando já dormindo. E ela não aceitava de jeito nenhum aquele status de "solteiro" no Orkut do namorado. Alberto não suportava a inquietude de Aline. A impaciência. O falar alto. O discutir. As brincadeiras que soavam como falsa modéstia. E Aline, como toda mulher que finge ser durona, sofria com o descaso de Alberto.

Mensagens truncadas ao longo do caminho. Um desvio. Erro de cálculo. Alberto percebeu que Aline não era Elis. Ela bebia, fumava e se impunha sim. Mas precisava mais dele do que ele previra. Mais Felícia do que Joana Dárc. Aline se decepcionou com o fogo que se aquietou. Com o homem que antes a bajulava e agora parecia não mais precisar dela.

Alberto e Aline. Bonito no papel.

Certas histórias soam melhores quando contadas por terceiros.

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