terça-feira, 25 de maio de 2010

O doce e o amargo de enfrentar o mundo





Eu deveria trabalhar numa agencia de viagens. Serio. Nao soh amo viajar como adoro meter o bedelho nas viagens alheias, dando opiniao e sugestoes. Adoro ser referencia pros outros e receber e-mails do primo do tio do vizinho do irmao da tia-avo do meu ex-aluno perguntando como eh a Africa. Ou o Mexico. Ou a Europa. E se eu tenho alguma dica milagrosa que vah facilitar suas vidas. Quando voltei da Africa do Sul, em crise, lembro que ateh pensei em cursar alguma pos em Turismo ou algo do genero. O projeto nao vingou. Tudo bem. Eu sei que posso ajudar as pessoas, sem envolver burocracia nem lucros. Puro altruismo mesmo.

Algumas pequenas dicas quando se vai pro exterior sao sempre validas. Preciosas ateh, digamos. Sempre deixo bem claro pros meus ouvintes que a minha situacao em paises de lingua inglesa sempre foi privilegiada porque todas vezes em que viajei tinha ingles fluente. (sou professora, neh, por favor!!!). Entao as coisas mudam um pouco de figura. O jogo soh termina quando acaba e vice-versa!

Eh preciso concentrar-se no Antes, no Durante e no Depois.

O antes envolve muitas coisas como onde, quando, como, por quanto tempo e porque. Pense cuidadosamente, porque serah muito dinheiro investido. Mesmo achando que independente da duracao, toda e qualquer viagem nos transforma, acho bastante valido pensar no que a gente quer ver do "outro lado". Cultura igual ou semelhante? Quer passar trabalho ou nao? Mochilao ou mordomias? Vai lavar pratos ou vai estudar pra valer e te aperfeicoar? Quer conhecer o mundo ou morar numa cidade pacata? Aprender uma nova lingua ou aperfeicoar uma que jah sabe bem? Viajar pra conhecer o mundo ou em busca do tal de auto-conhecimento? Tudo isso tem que ser levado em conta.

O durante eh o melhor e tambem o pior da jornada. Dependendo da estrutura emocional de cada um, as situacoes mais corriqueiras podem se tornar dramas e as mais dificeis serem resolvidas numa fracao de segundos. Eu sempre viajei sozinha. Fiz tudo sozinha. E nao me arrependo. As coisas teriam sido mais faceis se tivesse alguem comigo? Talvez, nao necessariamente. Antes soh do que mal acompanhada, if you know what I mean. Prepare-se pra fazer 5 amigos de nacionalidades diferentes por dia, pra adorar pessoas, pra odiar pessoas, pra enfrentar um turbilhao de emocoes. Chorar e rir na mesma medida. O ruim de viajar sozinha eh que nao temos com quem dividir as emocoes. A imensidao de coisas boas que acontece acaba anulando tudo de ruim, nem te preocupa, amigo!

Quando fiz meu mochilao pela Europa, felizmente, jah tinha o Luiz do meu lado, pra rosnar, rir, brigar, gritar, divagar, beber e desabafar. Agora em fevereiro quando fui pro Mexico de ferias (as dividas agradecem e me perseguem ateh hoje) tive o prazer de desfrutar da companhia de uma grande amiga, Vivian, com quem tenho muitas coisas em comum. Lembro que quando ela me convidou pra essa empreitada maluca, disse em alto e bom tom: "Tu sabe que 30 dias dormindo, acordando, comendo e fazendo tudo juntas vai resultar em eventuais brigas, neh?". Ela sorriu e disse "Tu sabe que eu nao sou disso". Dito e feito. Nao pensei que, com meu temperamento e instabilidade, seria capaz de passar 30 dias ilesa assim. Acho que eh a idade, a tal da maturidade. E a companhia, claro. Merito dela.



Quando viajei pela Europa em 2007, lembro que eu e o Luis, durante os 35 dias percorrendo o continente de trem e de mochila, quase destruimos uma bela amizade. Ainda bem que agora a gente ri de tudo isso. Mas, na epoca, claro que nao. Recordo-me de que conhecer a tal da "Abbey Road" em Londres foi mais traumatico do que emocionante - era nosso ultimo dia de viagem antes de voltarmos pra realidade de Dublin e jah nao aguentavamos mais comer/dormir mal e brigar. Uns amadores. Mas sobrevivemos. E aquela foto nossa sorrindo no meu mural tah ali pra me lembrar de que ninguem eh perfeito. E de que tolerancia eh a alma do negocio quando se convive muito tempo com alguem.


Viajar de ferias, como eu fiz pro Mexico, eh BEM diferente de passar um tempao num lugar - e criar uma vida e vinculos - , como quando fui pra South Africa e Irlanda. Vinculos: esse eh o maior dos problemas quando se fica fora. Nos primeiros dias, todo mundo que cruzar teu caminho sera teu melhor amigo. Nao tem como nao ser assim. Todos no mesmo barco, sabe? Ah medida em que o tempo passa, comecamos a filtrar as amizades e nessa peneira ficam pouquissimas pessoas - pelo menos comigo sempre foi assim, sou chata mesmo. Desses poucos que restam, forma-se uma familia. Tristezas, bom e mau humor, duvidas, alegrias, sofrimento, tudo eh dividido com essas pessoas, mesmo querendo ou nao. A familia verdadeira e os amigos de longa data estao longe e tudo o que tu nao quer eh chorar no telefone e preocupa-los. Eu mesma engoli o choro varias vezes falando com a minha mae. Passei por uma fase bem "dark" quando eu tava em Dublin e foram eles, meus melhores amigos por la - Rafael, Andre, Vanessa, Guilherme, Fabio e Luiz - que tiveram que aguentar meu sofrimento e indignacao. Eu sei que tinha momentos em que eles queriam me mandar ah merda e calar minha boca, mas nao o fizeram. Solidariedade. Aquele "um dia eu posso tambem precisar e eu sei que tu eh meu pai-mae-irmao aqui". Sou grata a eles ate hoje. Tudo eh muito mais intenso, mais vivido, mais louco, justamente porque tem prazo de validade. E a nao ser que tu case com algum maluco por lah ou tenha um passaporte que nao seja o Brasileiro, aposto que um dia tu voltaras.


Eh por isso que o depois torna-se muito dificil pra maioria das pessoas. Um mes, tres, seis, nao interessa. 1, 2, 5 anos. As coisas por aqui mudaram. Tu mudou. E, mesmo assim, tudo parece o mesmo. Os amigos de antes criaram novas amizades, tem novas historias, novos interesses, manias novas - tu nao ia esperar que eles ficariam 1 ou 2 anos sentados esperando por ti, ne? As pessoas parecem diferentes. Tu te sente estranho. As vezes os assuntos sao desencontrados. Ninguem entende o que tu passou. Ninguem sabe o que tu viveu. The Outsider. Alguns poucos bons amigos e familiares realmente interessar-se-ao pelos teus feitos e trocarao belas palavras contigo. A maioria - e nao eh culpa deles, acredite - nao parara pra te escutar. E fingira um pequeno interesse pela Torre Eiffel ou pelo Cavern Club. Nao fique brabo. A viagem eh tua. E de mais ninguem.

Situar-se depois de um bom tempo fora eh sempre complicado - eu jah vivi isso duas vezes em epocas distintas da minha vida e digo e repito: nao foi facil. Mas cah estou. Safe and sound. Tranquila. O importante eh entender que o que passou, passou. As boas lembrancas ficam, as fotos tao ali pra nao te deixar esquecer daquelas pessoas maravilhosas que um dia fizeram parte da tua vida. O contato manter-se-a por um tempo e depois morrera. Eh inevitavel. Uma lastima, mas eh assim. Nao dah pra manter varias vidas numa soh. Aprendi isso. Ateh porque as pessoas viverao em partes diferentes do mundo e do teu pais. Conselho: nem que seja um "oizinho" no Messenger, mas nao perca contato com essas pessoas que um dia foram tua familia. Tente, pelo menos. Os que ficaram aqui, tente ver quem realmente vale a pena e quem nao tem mais sintonia contigo - amizades podem enfraquecer sim, fazer o que. Eu perdi alguns amigos ao longo da vida, mas eh assim mesmo. Evolucao. Melhor do que manter relacoes que nao tem nada a ver por pena ou pra dizer que se tem amigos. A solidao se faz necessaria, meus caros. Sei bem disso.

Passados alguns meses da tua volta, tu vai acordar, vai olhar pra'quele sol lindo lah fora e vai ver que o luto passou, que tudo que foi vivido naquele outro lugar foi unico e insubstituivel mas que o melhor da vida ainda tah por vir. Mais ou menos como um fim de relacionamento: bola pra frente. E a melhor descoberta de todas eh tambem a mais obvia e tola: There's no place like home. Dorothy jah havia dado a letra em The wizard of Oz. Mas as vezes temos que cruzar oceanos pra vermos - e sentirmos - isso com nossos proprios olhos. O Brasil eh o melhor lugar do planeta, pelo menos pra mim. E se alguem tivesse me dito isso ha uns 5 anos, eu nao teria acreditado. Teria dado risada ateh. Eh, a vida e seus misterios.





ps: eu nao sou Gaucha chata a ponto de achar que tudo que eh do RS eh melhor. Alias, nao gosto disso. Mas melhor que o Gremio e que a Polar, nao tem nao... :D

sexta-feira, 7 de maio de 2010

I wish you love

Sometimes you love, and you learn, and you move on. And that's okay.




I wish you bluebirds in the spring

To give your heart a song to sing

And then a kiss, but more than this

I wish you love

And in July a lemonade

To cool you in some leafy glade

I wish you health

But more than wealth

I wish you love

My breaking heart and I agree

That you and I could never be

So with my best

My very best

I set you free

I wish you shelter from the storm

A cozy fire to keep you warm

But most of all when snowflakes fall

I wish you love

But most of all when snowflakes fall

I wish you love

I wish you love

I wish you love, love, love, love, love

I wish you love

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Don't look back in anger (ou fazendo as pazes com o passado)


Eu venho de uma família de loucos. Alguns diagnosticados, outros ainda timidamente mascarados. Se minha mãe ler isso, certo de que ficara triste comigo. Mas ela bem sabe que eh verdade. Infortúnio ou não, lidar com a genética maluca eh algo da qual não posso escapar. Em meio a um terremoto desses, sempre me orgulhei do fato de ser uma das (mais) “normais” nesse clã peculiar. A progenitora jah vinha dizendo há alguns bons anos que eu deveria procurar “ajuda especializada” pra resolver minhas piracoes. Orgulhosa (ou burra, talvez ingênua), disse que não. “Dos meus problemas cuido eu”. Mãe eh mãe, e sim, elas SEMPRE tem razão.

Não tive nenhum trauma na infância: fui uma criança feliz, com direito a muitas brincadeiras, Sessão de Tarde e imaginação. Venho de uma família classe-media que me proporcionou estudar em ótimas escolas e, por conseqüência, numa ótima universidade. Porem, desde pequena mostrei alguma instabilidade aos outros mortais. Não queria mais ir na aula decorridos alguns meses do inicio do ano escolar. Enjoava dos amiguinhos com freqüência. E do mundo. Diziam que eu era “de lua”. Eu diria "chata" mesmo. Nessas horas eu culpo o zodíaco – porque pra alguma coisa ele tem que servir. A minha instabilidade tem muito a ver com a minha inaptidão em admitir fraquezas e situações adversas. Sempre tinha que ser do MEU jeito. Infantil mesmo. A vida se encarregou de me mostrar quanto tempo eu perdi.

Eu lembro bem porquêeu procurei ele. Motivo bobo, agora eu sei. O tal do desespero. Agora eu soh tenho a agradecer. Agradecer pelo tal desespero. Porque agora eu acredito que tudo acontece por algum motivo. Não. Não virei evangélica. Agora sei o valor que tem sentar naquele sofá e ouvir aquela voz falando coisas tão fortes – e ora dolorosas – sobre um ser que se julgava auto-suficiente.

Eu tenho um amigo que me disse que psicólogo tah no mundo pra resolver nossos problemas – ele não pode ser nosso amigo e não temos que gostar dele. Eu, parcialmente, concordo. (In)Felizmente, eu gosto do meu. Como ser, como profissional, como grilo falante. Ele eh o cara que, bem ou mal, me ensinou a ver a vida com outros oculos.

Ele diz muitas coisas obvias. Coisas que talvez não valham os tantos reais que eu pago por sessão. Verdade. Mas as diz com uma sutileza digna de um lord inglês. E são essas as que mais doem: as verdades mais obvias que nem o Steve Wonder gostaria de ver – perdão pela piada HORRIVEL! São pequenas coisas – bem pequenas mesmo – que fazem uma puta diferença.

No inicio eu contava os minutos pra ir embora, não via a hora de sair correndo daquela sala. Tinha preguiça, confesso. Preguiça de achar diagnósticos pras minhas piracoes. Mais fácil deixa-las passarem batidas. Quase um ano depois, eu sei que muito pouco mudou no mundo ao meu redor. E talvez eu não tenha mudado nada. Talvez nem venha a mudar. Mas compreendi. E entendimento eh, por bem ou por mal, uma das melhores soluções pra dilemas.

Ele me fez ver a pessoa extramente imatura que eu escondo por trás dessa casca-dura e independência. Fez ver o quão insuportável eu posso ser. O quão louváveis são as pessoas que não desistiram de mim pelo meio do caminho. Porque eu não sou fácil. Disfarço muitas das minhas imperfeições com piadas e ótimo humor. Extravagância. Ou seria um escudo?

Não sei o que será de mim daqui pra frente. Se tudo isso – como sempre foi na minha vida- não vai ser soh algo “fogo-de-palha”. Se vou evoluir como ser humano e mudar o mundo como sempre quis. A cada encontro semanal eu menos sei. Mas cada vez compreendo mais. Contraditório, não?

Terapia não salva, não cura. Mas faz um bem danado. E isso vindo de alguém que sempre quis abraçar o mundo e resolver tudo by herself, well, I guess it means something.