quarta-feira, 5 de maio de 2010

Don't look back in anger (ou fazendo as pazes com o passado)


Eu venho de uma família de loucos. Alguns diagnosticados, outros ainda timidamente mascarados. Se minha mãe ler isso, certo de que ficara triste comigo. Mas ela bem sabe que eh verdade. Infortúnio ou não, lidar com a genética maluca eh algo da qual não posso escapar. Em meio a um terremoto desses, sempre me orgulhei do fato de ser uma das (mais) “normais” nesse clã peculiar. A progenitora jah vinha dizendo há alguns bons anos que eu deveria procurar “ajuda especializada” pra resolver minhas piracoes. Orgulhosa (ou burra, talvez ingênua), disse que não. “Dos meus problemas cuido eu”. Mãe eh mãe, e sim, elas SEMPRE tem razão.

Não tive nenhum trauma na infância: fui uma criança feliz, com direito a muitas brincadeiras, Sessão de Tarde e imaginação. Venho de uma família classe-media que me proporcionou estudar em ótimas escolas e, por conseqüência, numa ótima universidade. Porem, desde pequena mostrei alguma instabilidade aos outros mortais. Não queria mais ir na aula decorridos alguns meses do inicio do ano escolar. Enjoava dos amiguinhos com freqüência. E do mundo. Diziam que eu era “de lua”. Eu diria "chata" mesmo. Nessas horas eu culpo o zodíaco – porque pra alguma coisa ele tem que servir. A minha instabilidade tem muito a ver com a minha inaptidão em admitir fraquezas e situações adversas. Sempre tinha que ser do MEU jeito. Infantil mesmo. A vida se encarregou de me mostrar quanto tempo eu perdi.

Eu lembro bem porquêeu procurei ele. Motivo bobo, agora eu sei. O tal do desespero. Agora eu soh tenho a agradecer. Agradecer pelo tal desespero. Porque agora eu acredito que tudo acontece por algum motivo. Não. Não virei evangélica. Agora sei o valor que tem sentar naquele sofá e ouvir aquela voz falando coisas tão fortes – e ora dolorosas – sobre um ser que se julgava auto-suficiente.

Eu tenho um amigo que me disse que psicólogo tah no mundo pra resolver nossos problemas – ele não pode ser nosso amigo e não temos que gostar dele. Eu, parcialmente, concordo. (In)Felizmente, eu gosto do meu. Como ser, como profissional, como grilo falante. Ele eh o cara que, bem ou mal, me ensinou a ver a vida com outros oculos.

Ele diz muitas coisas obvias. Coisas que talvez não valham os tantos reais que eu pago por sessão. Verdade. Mas as diz com uma sutileza digna de um lord inglês. E são essas as que mais doem: as verdades mais obvias que nem o Steve Wonder gostaria de ver – perdão pela piada HORRIVEL! São pequenas coisas – bem pequenas mesmo – que fazem uma puta diferença.

No inicio eu contava os minutos pra ir embora, não via a hora de sair correndo daquela sala. Tinha preguiça, confesso. Preguiça de achar diagnósticos pras minhas piracoes. Mais fácil deixa-las passarem batidas. Quase um ano depois, eu sei que muito pouco mudou no mundo ao meu redor. E talvez eu não tenha mudado nada. Talvez nem venha a mudar. Mas compreendi. E entendimento eh, por bem ou por mal, uma das melhores soluções pra dilemas.

Ele me fez ver a pessoa extramente imatura que eu escondo por trás dessa casca-dura e independência. Fez ver o quão insuportável eu posso ser. O quão louváveis são as pessoas que não desistiram de mim pelo meio do caminho. Porque eu não sou fácil. Disfarço muitas das minhas imperfeições com piadas e ótimo humor. Extravagância. Ou seria um escudo?

Não sei o que será de mim daqui pra frente. Se tudo isso – como sempre foi na minha vida- não vai ser soh algo “fogo-de-palha”. Se vou evoluir como ser humano e mudar o mundo como sempre quis. A cada encontro semanal eu menos sei. Mas cada vez compreendo mais. Contraditório, não?

Terapia não salva, não cura. Mas faz um bem danado. E isso vindo de alguém que sempre quis abraçar o mundo e resolver tudo by herself, well, I guess it means something.

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