segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Testosterona

Eu sempre invejei os homens. Ser homem é passear por um mundo onde ser solteiro é sinônimo de virilidade; o excesso de testosterona é visto como macheza e até calvície e cabelo branco são vistos como charme. Infelizmente, no meu mundo, ser solteira é ser triste; chorar e ser frágil é sinônimo de imaturidade e celulite e barriga são pecados dignos de uma eternidade no inferno (e uma vida terrena sem tanto sexo e aduladores, hahaha). O melhor de ser homem, no entanto, é algo que, modéstia à parte, eu sei fazer com maestria: xingar. E nada como um estádio de futebol pra comprovar isso. Meu estrogênio chega a nível zero.

Às vezes eu acho que nasci pra ser homem. Não, não. Eu não gosto de mulheres (sexualmente, I mean). E muito menos gosto de briga, machismo e afins. Não é isso. Eu gosto da infinita liberdade e desprendimento que, ao meu ver, colocam os seres do sexo masculino anos luz à frente de nós, mulherezinhas, ainda apegadas a conceitos do século XVIII, onde nos convenceram de que nascemos pra reproduzir e ser a protetora de um lar feliz. Ser homem é ser livre, por natureza.

Homem trai sem pensar e se arrepender. Faz parte da natureza, eles argumentam. Instinto. (E eu, infelizmente, concordo com eles!) Homem pode xingar, falar palavrão, bater na mesa e, mesmo assim, ser visto pelas mulheres como "macho" e possível reprodutor. Homem pode cuspir na rua. (tá, isso eu acho nojento!) Homem pode tomar banho e sair sem pentear o cabelo que continua atraente. Não precisa cuidar da celulite e da pele. Homem nasceu pra ser bonito pra sempre.

Homem pode ser muito idiota também. Infelizmente. Pode ser insensível e preconceituoso. Também pode ser racional ao extremo e radical. (características nada louváveis, digamos) Homem pode ter filhos sem ter que se comprometer por uma vida toda. Homem nasceu pra ser livre, tou dizendo.

E são nesses 90 minutos que eu passo dentro de um estádio de futebol, nesses momentos super irracionais e levados pela emoção, que eu analiso os homens ao meu redor. E sempre chego à (triste) conclusão de que, sim, existem muitas vantagens em ter-se nascido homem. Homem nasceu pra xingar. Falar palavrão com a mesma voracidade que profere palavras bonitas e tocantes. Homem nasceu pra fazer e - talvez - nem pensar depois. Homem nasceu livre. Nasceu pra chutar baldes. Nasceu pra descomplicar. E, nessas horas também, eu me pergunto como que seres tão louváveis podem se apaixonar por nós, seres tão imperfeitos e complicados. Tão instáveis e chatos. Seres cheios de frescura. Ah, daí me dá uma enorme preguiça de filosofar e eu volto a xingar o juiz. E a coitada da mãe dele. E aproveito, até o fim, aquela testosterona que se apoderou de mim.