quinta-feira, 25 de março de 2010

Sobre as paixoes...




A Wikipedia diz que "A paixão é um forte sentimento que se pode tomar até mesmo como uma patologia provinda do amor". Alguns diriam que paixao eh desejo; Outros, que eh amor intenso; Alguns outros ainda que paixao eh passageira. Independente de qual tua definicao de paixao seja, creio que eh senso comum dizer que sem paixoes nao se vive. Ateh se vive, mas nao se vive bem.

Tenho me pegado pensando muito em paixoes atualmente. Nao soh da paixao em relacao ao sexo oposto (ou ao mesmo sexo, pq nao?). Falo de paixao mesmo. Latu sensu. Paixao pela vida, pelo trabalho, amigos, arte, , etc.

Paixao eh o que nos motiva. Undoubtedly. A vida com paixoes eh sempre mais colorida e significativa. Enche os olhos de cor e o coracao de esperancas. Paixao. Sem ela, nao dah.

Paixao pode derivar outros sentimentos tambem: euforia, loucura, exageros, frustracoes, tristezas... Paixao nem sempre eh boa e nem sempre eh correspondida na mesma medida. Eu, por exemplo, sou uma incondicional apaixonada por musica, o que nao faz de mim uma grande cantora ou baterista. A musica, talvez, nao seja apaixonada por mim. A paixao por livros nao fez de mim uma escritora. E a paixao pela vida nao fez de mim uma sabia filosofa. Mas a paixao pelas coisas faz de mim um ser mais completo e vivido.

Pensando em paixoes, aquela mesma em que todos devem tar pensando mesmo - stricto sensu - em relacao ao ser humano com um "par", pode nos levar a extremos. Eu sempre me apaixono ao extremo: por tudo e por todos. E na mesma medida em que me apaixono, desapaixono. A vida e seus misterios. A paixao, jah disse meu guru dias desses, eh a gente que constroi. Como se fosse um castelo. Paixao eh unilateral. Tua. E de mais ninguem. Te cega, as vezes. Pode te botar pra baixo tambem. Apaixonar-se eh um processo rapido e extasiante. O desapaixonar-se, no entanto, as vezes pode vir a ser longo e dolorido. Mas nunca impossivel.

Paixoes vem e vao. Assim como tudo na vida, sem querer cair no redundante. Paixao, eh sim, quem sabe, efemera. Legal mesmo eh o tal do amor. Amor eh mais forte. Eh resistente. Esse sim eh O CARA.

Como eu sou meio "DE LUA", eu opto pelas paixoes. Assim a vida fica mais facil. Um pouco mais superficial, quissaz. Mas nao menos interessante. Paixoes arrebatam. Destroem. Fortificam. Mudam. E, com um pouquinho de sorte, serao reciprocas e eternas tambem.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Leaving on a jet plane



Eu sempre fui adepta à teoria de que existem diferentes perfis de pessoas. Tem aqueles que nasceram pra constituir família, casar, ter uma penca de filhos e renunciar todo egoísmo possível pra dar vazão ao altruísmo - digníssimo sentimento esse. Tem os que nasceram pra estudar, meter a fuça nos livros, passar horas em bibliotecas e laboratórios afora pra provar por A mais B que a teoria deles é melhor do que a de outrem. Tem gente que nasce com dom artístico. Tem gente que nasceu pra viver uma vida pacata e conformada. Outros nasceram pra política. Alguns pra nunca terem um porto-seguro. Muitos tantos nem sabe onde se encaixam. Independente de qual perfil cada um tiver, o que importa é que não existe certo nem errado. Existe felicidade. Satisfação com o caminho escolhido. Alegria em ser o que se é. E aceitar seu perfil com tudo que ele inclui: loucuras, paranóias, medos, inseguranças e muito mais.

A maioria das nossas escolhas é proporcionalmente influenciada pelo nosso "perfil de pessoa". Ou seria o contrário? Indagações à parte, eu sempre fui do perfil "o mundo é muito grande pra se ficar num lugar só". Eu sempre amei música, cinema, livros e arte em geral. E o fato de eu amar Inglês e ter escolhido dele a minha profissão já diz muito sobre mim. E sobre meu perfil: fadada a passar a vida como itinerante. Inquieta. Buscar conhecer cada vez mais do mundo parece ser intrínseco aos professores de língua estrangeira. É um sentimento meio que sem explicação de sempre querer saber como as pessoas vivem fora daqui, querer conhecer tudo e não se contentar com reportagens especiais do Globo Repórter ou com o Zeca Camargo perambulando pelos quatro cantos do mundo: We have to see it for ourselves.

Minha vontade imensurável de conhecer o mundo me acompanha desde pequena. Acho que se explica um pouco pelo fato de eu ter uma mãe professora de história e um pai que me apresentou ao British rock muito cedo, sem mencionar os filmes de James Bond, Spielberg e mucho mais. A curiosidade foi sendo cada vez mais aguçada. Queria muito ver tudo aquilo que eu via nos livros e nos filmes com meus próprios olhos. Sem contar a vontade constante de poder falar Inglês 24 horas por dia. Really appealing.

De lá pra cá, muita coisa aconteceu. Muitos sonhos de viagem foram concretizados, tenho muitos outros ainda por planejar e conhecer. Uma certeza fica, sem dúvida: quanto mais se viaja, mais se quer. Aquela velha história do "quanto mais se estuda, menos se sabe". Viajar é um vício. Vício extremamente caro pra quem vem de família de classe média e sempre teve que arcar com os sonhos com o próprio suor do trabalho. Não me queixo, assim as coisas têm um gostinho melhor: o mérito é meu. Fiz e aconteci. E o cartão de crédito gritando no vermelho será dor de cabeça somente nos meses seguintes. Quanto mais se viaja, mais se quer conhecer do mundo. O que nos deixa mais inquietos e, infelizmente, descontentes com nosso dia-a-dia sometimes. Mas é investimento que fica. Será teu pra sempre. Na volta, todo mundo parece bastante interessado em ver fotos e ouvir causos. Decorridos 5 minutos, os bravos amigos já se entediaram de tanto falatório non-sense. Conclusão: viajar é intransferível. Ninguém tem culpa de não se interessar. A viagem é e sempre será tua. De mais ninguém. Um outro mundo visto pelos teus olhos. E certas impressões valem mais do que qualquer carro zero ou calça jeans de 300 reais.

Se eu pudesse, moraria num aeroporto. Amo-os. Sou fascinada por aquele corre-corre, aquela dinâmica toda de pessoas coming and going all the time. Sentimento inexplicável. Minha mãe (e Freud provavelmente concordaria) acha que eu tenho medo de criar vínculos e de assumir a vida adulta. Tou sempre querendo fugir. Buscando o inalcançável. Meu amor por Holden Caufield não é à toa, amigos. Talvez ela tenha razão. Agora, porém, isso é tudo muito irrelevante. A perspectiva de voar longas distâncias novamente me deixa eufórica e ansiosa: lá vou eu desbravar mais um pedacinho do mundo. Ficar mais uma vez enebriada com gente e culturas diferentes. 30 dias realizando um grande sonho e conhecendo um lugar que muito me encanta. Provavelmente me apaixonarei mais uma vez e voltarei com aquele aperto no coração de "por que isso sempre acontece comigo?". É ver pra crer. E, na volta, encarar a dura realidade de ter que ter um ponto fixo no mapa. Às vezes acho que sou louca e que faço as coisas pra pensar depois. Mas não, sem ilusões, essa sou eu e viajar faz parte de quem eu sou. Malditos perfis!

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Estamos todos bem



- Mercedes?

- Oi?!? Diegoooo, nao acredito!

- Sabia que era tu!

- Como tu me achou aqui, no meio dessa gente toda?

- Eu tava indo no banheiro ali e acho que te reconheci pela blusa. Fui eu que te dei, neh?

- Eh, eh verdade.

- E o ... Como eh mesmo o nome dele?

- Ricardo!

- Ricardo, isso, Ricardo!

- Vai bem. Nao veio hoje. Tava meio indisposto.

- Indisposto, eh? Estranho...

- Estranho por que? (com acento!)

- Ueh, sei lah, estranho...

- Que tu tah querendo dizer, Diego?

- Nada nao, Mercedes, deixa de ser neurotica.

- Ah, mas sempre tu tem que vir com esses comentariozinhos sacanas assim, jogados ao vento...

- Nao falei nada de mais, Mercedes.

- Sempre assim!

- Mercedes?

- Que foi, Diego?

- Vou no banheiro, tah?


E naquele instante Mercedes e Diego lembraram que soh ficavam bonitos juntos nas fotografias. Agora amareladas, cobertas de poeiras, jogadas ao fundo de uma caixa de Alpargatas.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Saga



A primeira vez que te vi


Tu tinha um cigarro na boca. Era inverno. Ventava e chovia lah fora. Tu vestia uma jaqueta e uma calca jeans igualmente surradas. O barulho e as vozes nao pareciam te importunar: tragava teu cigarro como se nao tivesse ninguem ao redor. Nem a musica dos Stooges te fazia perder a pose. Tu continuava ali: inerte. Tu e teu cigarro. Como se nao existisse um outro mundo alem do teu. Nao sei bem se foi nesse instante em que eu me apaixonei. Ou se foi depois. Soh sei que eu nunca vou esquecer aquele momento em que tudo parou. Pelo menos pra mim.

Eu nao era a unica que te notara. E tu sabe muito bem disso. Foi nascer bonito. Fazer o que. Sei que nao foi o rosto a la Gael, muito menos o jeito displicente do Luna. Foi o modo como tu tragava aquele cigarro. Como se fosse o unico no mundo. O primeiro. O ultimo. Sedento. "Imagina aquele homem comendo uma mulher", eu provavelmente pensei. Foi tudo culpa do cigarro. Tua devocao a ele. Nao foi o cabelo, certamente nao foi o sorriso tambem. Nem teu charme contagiante. Maldito cigarro. Se tu nao fumasse, minha vida teria rumo. Philip Morris, esse eh o culpado.


A primeira vez que te tive


Nao foi o cigarro dessa vez: foi tua voz. Forte, mas aveludada. Como um beijo sussurrado no ouvido. A primeira palavra proferida e consegui te imaginar cantando "Something" ao peh do meu ouvido. Nao restavam mais duvidas. Passara no teste. Sempre soube que o homem da minha vida seria aquele que cantaria a musica do Beatle George pra mim. Dito e feito. Era tu. Ninguem mais. Afinidades. As horas passaram como se fossem segundos. Eu nem lembro mais quem tomou a iniciativa. Soh sei que eu fui parar na tua cama. Melhor ainda: nos teus bracos. E nao teve Beatles no ouvido. Nem precisava. Senti-me como o cigarro daquela noite: devorada. E, pra mim, isso bastava.


A vez em que te conheci


Ventilador ligado. Calor incandescente. Tu nao tava legal, eu lembro. Tinha uma cerveja na geladeira. Um cigarro no maco. O cinzeiro, cheio. E tu, cheio de mim. "Nao dah mais." E 5 minutos depois, eu tava na rua. "Toma!", tu me disse, entregando aquele ultimo cigarro, "tu vai precisar." E fechou a porta. Fechou tua vida pra mim. O ultimo cigarro foi fumado na frente do teu prédio. Na escadaria. Eu, o Philip e as lagrimas. Na rua, o silencio contrastava com a bagunça dentro de mim. Ainda era noite ou jah era dia? E a cada tragada, eu te sentia indo embora. Era como se tu estivesse, gradativamente, desaparecendo da minha vida. As cinzas caindo no chao. Um pouco mais de lágrimas. Fumei ateh o filtro na esperança de te ter um pouco mais comigo. Acabou. Joguei a bituca no chao e nao olhei pra tras. A duvida doi menos que a certeza.


A ultima vez que te vi


Tu jah tinha voltado pra ela, presumo. Tu usava a mesma jaqueta daquela primeira vez. E os mesmos oculos que eu tanto amava. Te vi na rua. Tu nao me viu. Pra falar a verdade, nao fiz muita questao de ser vista. Te deixei passar. Livre. Sereno. Feliz. Queria gritar, correr em tua direcao, te dizer que te amava. Que ainda tinha muito pra gente viver. E passou um filme na minha cabeca. Te vi atravessando a rua pra me abracar. E dizer que tudo ia ficar bem. Que juntos nos eramos melhores. Acordei. Tu passou por mim. Como um furacao que levou o melhor que tinha em mim. Meus sonhos. Planos. Sorrisos. E deixou a amargura e o arrependimento. Vai ser no ouvido dela que cantaras "Something". E eu soh tenho que aceitar.



A vida sem ti


Uma pessoa fica viva enquanto a gente lembra dela. Hoje eu enterrei a parte de ti que ainda me atormentava: parei de fumar. Nenhunzinho mais. Os cds dos Beatles, esses eu nao me desfaco nunca. Assim como o Rob de "High Fidelity", isso eh parte de mim. Soh minha. Tu nao vai estragar isso tambem. Hoje eu rezei tua missa. 3 anos. Nunca mais ouvi de ti. Teus amigos nao comentam nada. Acho que eles tem medo. Bobagem. Jah passaram 3 anos. Ouvi dizer que tu nao tah mais com ela. Parece que tu te encheu dela mais uma vez. Previsivel como sempre, tu es. Nao sei se fico feliz ou triste: sinto pena. De mim - nao dela, muito menos de ti. De mim porque te deixei entrar na minha vida. Por nao saber. Porque se eu soubesse, eu nao teria entrado nessa. Mas agora eh tarde pra lamentar. A verdade eh que eu senti muito tua falta. Nunca entendi nada. Nunca te entendi. Tu nunca me conheceu. Nem quis tambem. Mas hoje tu morreu pra mim. Hoje foi o fim. E, olha soh, o Guto, aquele mesmo, o que nos apresentou, veio aqui hoje. Trouxe ceva e um violao. Adivinha o que ele tocou pra mim?

Ps: ele nao fuma! dessa vez vai ser diferente!

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Bloco do Eu sozinho


Gil nunca acreditou em relacionamentos. Ou pelo menos fingia muito bem. Tinha raiva de casais felizes. Odiava a dependencia que muitas vezes vinha no pacote chamado romance. Repugnava o dia dos namorados. Gentileza nao era com ela nao: se abrisse a porta do carro, ela provavelmente sairia correndo. Benzinho, docinho, nenem, eca! - apelidinhos davam-lhe nausea. Vamo toma uma ceva hoje?, ela perguntava pras amigas. Elas, por sua vez, tinham que averiguar com "a outra metade" se eles nao tinham combinado algo diferente pra noite. Sabe como eh, prioridades.

Ateh que um belo dia a borboleta pousou no jardim de Gil. Nao era tao bonito como o sol, o mar e a flor. Nem tao sagaz como Holmes. Nem tao letrado como Shakespeare. Nada ativista como Lennon. Melhor: era real. Era humano. Era falivel.

Gil caiu. E nunca mais se levantou. Um tombo desses, ela pensou, vale mais que mil tolas conviccoes juvenis.



domingo, 17 de janeiro de 2010

A vida dos outros


Jorge sempre quis ser "cool". Achou que tinha nascido pra isso. Vocacao mesmo. Desde pequeninho, quando lhe perguntavam, "Jorge, o que voce quer ser quando crescer?", ele respondia, em alto e bom tom: "Cool!". As tias, tias-avos, primas suspiravam e soltavam um "oooh" conjunto. Seu pai, sempre turrao e pouco paciente, rosnava: "Vai eh ser viado, isso sim. Ser "cool" eh coisa de viado". A mae jah largava um "Cala a boca, Joao, tu nao sabe o que tu tah falando" e incentivava o pequeno Jorge em sua travessia em ser "cool". Mesmo sem saber direito do que se tratava esse "cool". "Serah que eh alguma coisa da televisao?", ela pensava.

Que diabos eh ser cool, afinal? - muita gente desentendida perguntava. (a titulo de curiosidade e pra ingles ver: Slang unruffled elegance or sophistication). Os habitantes da pequena cidade ficavam estarrecidos com tanta petulancia e desejo de mudanca do menino. Por que nao aceita que nasceu pra ser pobre e morar no mato, hein? Jorge era motivo de cochicho e olhadas por onde quer que passasse. Com seu cabelo comprido e suas calcas boca de sino.

Jorge queria ser "cool". Ponto. Cresceu, tomou consciencia de si mesmo e nao mudou de ideia. Aos 16, colocou uma mochila nas costas e foi pro "estrangeiro". Largou a escola, a namorada perfeita (que nao era nada cool, diga-se de passagem), a mae aos prantos com um pano de prato na mao e o pai, gritando, "tu vai te arrepender, meu filho. Devia virar jogador de futebol."

Jorge carregava, alem da mochila, um violao. Porque, pra ser "cool", ele teria que virar um astro de rock. Foi pra Londres. Porque nao tem lugar mais refinado no planeta do que esse. Na mochila, muitos vinis de Iggy Pop, Velvet Underground e todos deuses do rock 60-70. Vinil porque Cd eh coisa de maneh. Pra ser ser "cool" tem que escutar Lp mesmo. Algumas calcas jeans surradas, uns All Stars coloridos e muitos sonhos. Alem de seu diario. "Eh agora que a vida comeca", pensou Jorge.

Jorge jah se considerava abencoado desde o nascimento. Nao era ah toa que se chamava Jorge. Tinha "quase" o nome do famoso Beatle. O mais "cool" de todos. Sabia, no fundo, que seu pai nem suspeitava quem eram Lennon e McCartney (imagine George Harrison entao!) e dificilmente saberia indicar onde Liverpool ficaria no mapa. Irrelevante, seu destino jah havia sido tracado. Livrou-se do mato e da ignorancia. Era livre.

Chegou em Londres, conheceu o mundo. Realizou o maior sonho da vida: tornou-se COOL. Cabelo vermelho, jeans rasgado, guitarra na mao. Encantou as menininhas. Tomou acido. Viciou-se em heroina. Do outro lado do oceano, seu pai continuava ouvindo sertanejo; Sua mae, o Roberto (mas da fase "terno branco" porque o que cantava "Calhambeque" era discipulo do capeta). Deixou as raizes de lado, esqueceu familia, amigos e passado. Deixou tudo pra tras. Virou rock star. Era um Deus.

10 anos depois, cansou de tudo. Viu que dava muito trabalho ser "cool". Cansou do lero-lero das menininhas que o endeusavam. Cansou do barulho da vida noturna. Encheu o saco das drogas. Juntou os trapos que restaram e comprou uma passagem de volta. Voltou. Em casa, nada de novo: a mae cozinhando; o pai assistindo ao Faustao. Deu um abraco apertado nos dois. Ateh derramou algumas lagrimas. Ao entrar no velho quarto, viu que esse sim estava diferente: tinha virado um altar. Sua mae havia recortado noticias de todos jornais e revistas que ele havia aparecido. Entrevistas, posteres. Ateh o unico Cd que sua banda gravara estava lah, ao lado do aparelho de som. "Tu nao vai te arrepender, Jorge?", a mae perguntou. Ele nao respondeu. Aquele quarto era a resposta que sempre havia procurado.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

E o tudo virou nada

Barulho la fora. Do lado de dentro, paz. Como ela nunca pensou que teria novamente. Olhou pro relogio, ja era tarde. Ouviu o agradavel gargalhar das criancas na rua. Os caes latindo. Carros e buzinas. Do lado de dentro, calmaria. Salvo a Tv que, por ironia do destino, estava sintonizada na Mtv. Mike Patton cantava "Easy like Sunday Morning". Ela sorriu. A good start. Ansiara por esse momento por quase uma vida. E ele estava ali. Chegou quando menos esperava. Lah fora, as criancas continuavam a brincar e gritar. Ouvia tambem os sermoes dos pais. Fofocas dos vizinhos. Foi lah fora fumar um cigarro. E o sol brilhava. Nenhuma nuvem, pensou. Do lado de fora, as pessoas. Do lado de dentro, o silencio. A certeza, mesmo que por vezes ilusoria e ingenua, de que tudo seria diferente. Sera? - ela indagou mais uma vez. Porque ela nunca acreditara em calmaria. Acostumara-se com as tormentas e com os tropecos. Com o sofrer. Decidiu nao duvidar. E em meio a um cigarro e um copo de cafe, ela sorriu.