quinta-feira, 24 de setembro de 2009

A química perfeita


Hoje eu comecei a pensar em todos alunos que já cruzaram meu caminho. 9 anos. 9 longos anos. No decorrer desse tempo, eu passei por tantas experiências indescritíveis com essas pessoas que, se eu tentar lembrar de tudo e de todos, lágrimas (de felicidade e saudade) cairão dos meus olhos.



Eu escolhi ser professora porque eu sempre amei pessoas. Estar ao redor delas. Trocando experiências, sentimentos ou, simplesmente, num momento Seinfeld da vida, falando sobre o nada. Eu decidi ensinar pra aprender. Eu ensino, digamos, teoricamente. Na verdade, eu acho que aprendo muito mais com meus alunos do que eles comigo (sem querer menosprezar meu digníssimo trabalho, of course). Eles que são, de fatos, os verdadeiros "teachers". Daquilo que poderíamos chamar de "escola da vida", a mais importante de todas. Undoubtedly.



Dizem que o professor de idiomas sabe um pouco sobre tudo. Entende de biologia, música, cinema, moda, sabe o valor do Dólar e da Libra e também é um pouco psicólogo, um pouco ator frustrado. Creio eu que devemos isso aos nossos alunos, que compartilham conosco suas vidas, medos, ambições, dúvidas e conhecimento.



Adolescentes surpreendentemente agradáveis e com refinado gosto, médicos, engenheiros, advogados, executivos, jornalistas, outros professores e até mesmo padres já fizeram parte do maravilhoso grupo de alunos com quem eu tive o prazer de desfrutar belos momentos, dentro e fora do âmbito escolar (adoro palavras bonitas!). Graças a eles, eu fiquei mais tolerante, mais paciente, mais gente.




Algumas frases e histórias marcaram minha vida pra sempre. Uma delas veio de um padre. Uma das pessoas mais "irradiadoras" de alegria e de bem com a vida que eu já conheci. Lembro de uma vez em que ele foi questionado sobre a tal "existência" divina e ele, com toda serenidade e brilho de viver nos olhos, disse: "Se Ele existe ou não, eu acho que eu nunca vou saber. Mas acreditar nEle não me tira pedaço e me faz um bem danado!" Eu, sempre descrente, cheguei a pensar em começar a acreditar. É, fazer mal não faz. Então, por que não?




Anedotas da vida à parte, o mais incrível e adorável nisso tudo é que, muitas vezes, esse relacionamento Teacher-Student ultrapassa as quatro paredes da sala de aula e chega às mesas de bar, casas, estádios de futebol, raftings, karaokês, festas, churrascos, orgia de docinhos e coca-cola, "Woodstocks" improvisados, viagens e, até mesmo, passando pelo coração (violinos, por favor!). Muitos amigos eu ganhei. Não fiz amizades, ganhei! E das verdadeiras! Relacionamentos que começaram timidamente numa aula de inglês e que foram tomando diferentes formas e se transformando em algo mais forte, mais duradouro.



Eu raramente esqueço um nome de um aluno. Não, na verdade nunca esqueço. Não esqueço histórias, dilemas, muito menos piadas e farpas (ironicamente) trocadas.




Uma das partes mais bonitas em se tornar um "teacher" é que acabamos nos tornando imortais. Como disse Rubem Alves uma vez, "Ensinar é um exercício de imortalidade. De alguma forma continuamos a viver naqueles cujos olhos aprenderam a ver o mundo pela magia da nossa palavra. O professor, assim, não morre jamais...". Pode até soar meio narcisista, mas a ideia de ser pra sempre lembrado, pelo menos pra mim, é deveras agradável.




Eu tenho plena consciência de que nunca vou mudar o mundo. Nem caberia a mim fazê-lo. Mas tenho absoluta certeza de que contribui na vida de algumas pessoas. Fiz a tal da diferença. Signifiquei algo. Fiquei marcada. Pode ter sido meramente ajudando a superar expectativas, ou naquela grande promoção no emprego. Naquele suspiro de alívio ao chegar num aeroporto e se fazer entender. Ao atender uma ligação do "estrangeiro". Escolhendo uma carreira. Ou até mesmo numa simples beberrança num bar, contando causos e rindo dos percalços dessa nossa quase sempre tão dura vida.




Eu amo pessoas que me inspiram. E também amo ter a falsa ilusão de que eu possa vir a inspirar pessoas. Cultural ou espiritualmente. Fazer as pessoas ouvirem mais rock. Lerem mais livros. Assistirem a mais filmes. Aprenderem a rir de si mesmas e a não se desesperar ante uma situação inusitada. A ser mais otimista e put that smile on your face, mesmo que as coisas não estejam como a gente esperava. A acreditar.




"Life's about sharing". Eu vi alunos me estendendo a mão quando eu mais precisei. Elogiando meu trabalho quando eu menos esperava. Vi alguns me criticando e falando mal. Aceitei, assimilei. Não levei pro lado pessoal. Vi muitos sorrisos sinceros e recebi abraços verdadeiros. Na rua, no bar, na fatídica última aula (ah, as despedidas!).




A minha vida, em suma, é isso: aprender e trocar experiências. Todos os dias. E eu não poderia pedir rotina melhor do que não ter rotina. Como diria meu ídolo Forrest Gump, "Life is like a box of chocolate, you never know what you're gonna get." Eu diria que teaching é como uma "box of chocolate": full of unexpected and wonderful surprises.




Ser professor não é, pelo menos pra mim, nada restrito ao verbo que meus colegas tanto gostam de usar "ensinar". É, felizmente, aprender. Aprender como se tornar uma pessoa melhor. Aprender a viver melhor em sociedade. Aprender a lidar com as diferenças. A ter paciência. A não ter preferências. E a vida, my friends, gira em torno disso: APRENDER. Juntos, nunca sozinhos.













3 comentários:

Anônimo disse...

Amém, Hell! Amém!
Beijos.

Melissa Becker disse...

You are so cute... :p

Natu disse...

É... definitivamente eu adoooro teus textos.